O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), considerou o
mensalão um caso para juizado de pequenas causas, em comparação aos
escândalos de corrupção da Petrobras. Mendes considerou o caso “muito
grave” e preocupante, diante da “vastidão, imensidão” das denúncias. O
processo do mensalão foi julgado pelo STF em 2012, resultando na
condenação dos principais atores, como o ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu. A corrupção na Petrobras, desvendada pela Operação Lava Jato,
também é alvo de um processo no STF.
- Sem dúvida nenhuma, é muito grave. (No mensalão), nós falávamos que
estávamos a julgar o maior caso, pelo menos de corrupção, investigado,
identificado. Claro, nós tínhamos a noção de que aquele número decantado
era um número provisório, que a investigação não tinha sido
aprofundada. Se falava mesmo que os fundos de pensão ficaram sem uma
investigação continuada. Mas nós falamos de R$ 170 milhões. Agora, a AP
470 terá que ser julgada em juizado de pequenas causas pelo volume que
está sendo revelado nesta demanda (Lava Jato). Então, realmente temos
que nos preocupar - disse o ministro.
ilmar Mendes refutou o argumento de que a corrupção na Petrobras teria
servido para custear campanhas eleitorais. Ele lembrou que os
integrantes do esquema aumentaram seu patrimônio pessoal, diante das
altas somas desviadas.
- Há um certo argumento, um álibi, que a isso tudo tem a ver com
campanha eleitoral. Nós estamos a ver que não. Nós estamos a ver que
esse dinheiro está sendo patrimonializado. Passa a comprar lanchas,
casas, coisas do tipo. Quando a gente vê que uma figura secundária se
propõe a devolver 100 milhões de dólares, nós já estamos em um outro
universo, em outra galáxia - afirmou.
Para o ministro, o esquema da Petrobras comprova que as penas aplicadas
no mensalão não tiveram o caráter didático de inibir o desvio de
dinheiro público:
- Nem o julgamento do mensalão, nem as penas que foram aplicadas teve
qualquer efeito inibitório. O que mostra que há uma práxis que compõe
uma forma de atuar, de gerir, de administrar.
Mendes prevê que a Lava Jato demande muito trabalho no STF. No entanto,
pondera que hoje o tribunal tem a possibilidade de atuar de forma mais
rápida. Isso porque, na época do mensalão, ações penais eram julgadas no
plenário, composto dos onze integrantes da Corte. Hoje, essa tarefa é
atribuída às duas turmas, formadas por cinco ministros cada. O
presidente do STF não atua nos julgamentos das turmas.
Outro fator de celeridade seria o possível desmembramento do processo –
ou seja, permaneceriam no STF apenas pessoas com direito ao foro
privilegiado. O restante seria julgado pela primeira instância da
Justiça. Essa divisão não ocorreu no processo do mensalão.
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