editorial de O Estado de S. Paulo
A economia nacional continua presa num atoleiro, movendo-se muito
devagar e sem perspectiva de acompanhar o avanço global no próximo ano e
talvez no seguinte, de acordo com os novos números do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sem grande melhora para
exibir, o governo pode, no entanto, anunciar o fim da recessão, porque
no terceiro trimestre o Produto Interno Bruto (PIB) foi 0,1% maior que
no segundo. Mas ficou 0,2% abaixo do nível de um ano antes. Nos
detalhes, o contraste ainda foi mais feio. A produção industrial foi
1,5% menor que a de julho a setembro
de 2013 e o investimento produtivo, 8,5% inferior. Houve, sem dúvida,
alguma recuperação depois do desastre na primeira metade do ano, quando a
produção geral encolheu em dois trimestres consecutivos, com taxas
negativas de 0,2% e 0,6%. Mas a anemia econômica permanece.
A nova equipe responsável pela economia terá de providenciar boas doses
de vitamina, mas, ao mesmo tempo, deverá cuidar dos fundamentos,
consertando as contas públicas e contendo a inflação. O déficit
acumulado pelo setor público em 12 meses, de 5,01% do PIB, foi um dos
mais altos do mundo, embora a presidente Dilma Rousseff insista em dizer
o contrário. A estabilidade, como foi dito na apresentação dos futuros
ministros da Fazenda e do Planejamento e do presidente do Banco Central,
é condição para o crescimento e para a continuidade da inclusão social.
Mas a prosperidade vai depender, em grande parte, da recuperação da
indústria, especialmente do setor de transformação, e de volumes de
investimento muito maiores que os dos últimos dez anos. O produto da
indústria de transformação aumentou 0,7% do segundo trimestre para o
terceiro, mas foi 3,6% menor que o de um ano antes, principalmente por
causa do mau desempenho dos segmentos automobilístico, de produtos de
metal, de máquinas e equipamentos e de aparelhos elétricos. No ano, a
indústria de transformação cresceu 3,3% menos que entre janeiro e
setembro de 2013, prolongando uma bem conhecida trajetória de crise.
O consumo das famílias diminuiu no terceiro trimestre, mas tem sido, por
vários anos, mais que suficiente para absorver um grande volume de bens
industriais. Parte crescente dessa demanda tem sido desviada para bens
importados, porque a indústria nacional tem sido incapaz de enfrentar a
concorrência estrangeira tanto no mercado exterior quanto no interno.
A dificuldade para competir é, em grande parte, explicável pela baixa
produtividade, um problema citado na quinta-feira pelo futuro ministro
da Fazenda, Joaquim Levy. Ele prometeu atenção a esse problema e também à
concorrência, ao empreendedorismo e à inovação, igualmente
"indispensáveis para o crescimento sustentável". Não deu detalhes, mas
um bom primeiro passo será evitar os erros da fracassada política de
incentivos e de protecionismo seguida em Brasília nos últimos quatro
anos ou pouco mais.
Qualquer política séria de reativação econômica e de aumento da
produtividade e do poder de competição terá de envolver uma forte
expansão do investimento. Tanto o setor privado quanto o governo terão
de investir muito mais. Neste ano, até setembro, a formação bruta de
capital fixo - dispêndio total em máquinas, equipamentos, instalações,
construção civil e infraestrutura - foi 7,4% menor que nos nove meses
correspondentes de 2013. No terceiro trimestre, o valor investido
equivaleu a 17,4% do PIB, a menor taxa para esse período desde os 17,2%
de 2002.
Desde 2000 a maior proporção de investimento no terceiro trimestre, de
20,7%, foi alcançada em 2008. No primeiro mandato da presidente Dilma
Rousseff o declínio foi quase ininterrupto. A generosa distribuição de
benefícios fiscais e financeiros a setores e grupos selecionados foi um
amplo fiasco, atestado tanto pelo baixo crescimento da economia quanto
pelo pífio investimento empresarial. Igualmente pobres de resultados
foram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a política de
concessões no setor de infraestrutura. Também nessas áreas, a grande
herança para a nova equipe é formada pelas lições do fracasso.
fonte rota2014
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