por Elio Gaspari
A maior injustiça que se pode cometer com Guido Mantega é atribuir-lhe
alguma participação no mau estado da economia nacional. Desde a implosão
de Antonio Palocci, em 2006, esse cargo foi ocupado por Dilma Rousseff.
Primeiro ela foi uma poderosa chefe da Casa Civil. Depois, acumulou o
ministério com as funções de presidente da República. Como ela mesma
anunciou em sua campanha, "governo novo, ideias novas". Quais são as
ideias, não se sabe direito, mas, se ela não tiver ministro da Fazenda, o
que vem por aí será mais do mesmo.
Pode-se deixar de lado as grandes decisões de política econômica, pois
quem foi eleita foi ela. Antes dos macroproblemas há outro, simples e
essencial. O presidente preside, e o ministro segue suas decisões. Se
aquilo que o ministro quer fazer não confere com os desejos do
presidente, ele é mandado embora. Se o mandam fazer o contrário do que
foi combinado, é ele quem pede o chapéu. Desde que Pedro Malan deixou o
Ministério da Fazenda essa escrita foi rompida.
Detonado numa breve polêmica com a doutora, Antonio Palocci foi ficando,
até que acabou perdendo o cargo por motivos estranhos ao desempenho
econômico do governo. Guido Mantega substituiu-o e também foi ficando.
Durante os oito anos em que Pedro Malan foi ministro da Fazenda, toureou
divergências internas do tucanato com uma bala de prata encostada na
têmpora e o dedo no gatilho. Em diversas ocasiões mostrou ao presidente
Fernando Henrique Cardoso que podia ir embora. Um desses episódios
mostra como o tempo passa e a discussão é a mesma. Malan era conhecido
pela sua retranca, e o ministro do Desenvolvimento, Clóvis Carvalho,
disse num evento público que "desenvolvimento tem que se traduzir em
renda e emprego". Mais: "O ministro Malan concorda comigo. Dá, sim, para
arriscar mais, para ousar mais. (...) Apressar o passo na retomada do
crescimento não trará o apocalipse. E o excesso de cautela, a essa
altura, será outro nome para a covardia".
Malan estava na cena e ouviu calado. Dois dias depois Carvalho foi
mandado embora. Se ele não fosse, Malan iria. Em outras ocasiões, até
mesmo em episódios menores, porém demarcadores de território, Malan
mostrou a bala de prata a FHC.
Olhando-se para a biografia de Malan, sabe-se que é um homem frio e elegante.
Jamais sairia batendo a porta, mas também não ficaria ficando. O mérito
da sua permanência no ministério esteve no fato de que Fernando Henrique
era presidente da República e estava entre as suas atribuições a
administração de divergências na equipe. Tendo sido ministro da Fazenda,
desencarnou.
Um ministro que trabalhe com um olho nas contas e outro no comissário
Aloizio Mercadante ou nos conselheiros avulsos do Alvorada é receita
certa para o desastre. No caso atual, essa dificuldade se agrava. Quem
viu nas palavras de Clóvis Carvalho alguma semelhança com o que disse a
doutora Dilma durante a campanha não deve achar que está diante de uma
coincidência. O pensamento é o mesmo, pode ter variado apenas a
sinceridade.
Se Dilma Rousseff assumir a Presidência, dispensando-se das funções de
ministra da Fazenda, algo de bom pode acontecer. Do contrário, no final
do ano que vem é possível que haja gente com saudades de Guido Mantega.
FONTE ROTA2014
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