Jornalista Andrade Junior

sábado, 29 de novembro de 2014

"A volta do ‘fogo amigo’"

EDITORIAL DO GLOBO

Petistas voltam a bombardear parte da equipe econômica, como fizeram no primeiro governo Lula devido à entrega do BC a um banqueiro e à política de ajuste praticada



Outra semelhança entre a fase inicial do segundo mandato de Dilma com o primeiro governo Lula — na prática, o segundo governo começou ontem — é o conhecido “fogo amigo” das falanges radicais do PT contra a equipe econômica. Sendo mais preciso, contra Joaquim Levy, considerado um “fiscalista”, um “neoliberal”. Pior, mesmo já tendo servido a Lula, também trabalhou para os tucanos — foi chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento na Era FHC.
Levy será alvo tanto quanto foi Henrique Meirelles, no Banco Central do primeiro governo Lula,assim como o próprio ministro Palocci, petista estrelado, mas vítima de ataques por patrocinar uma política de ajuste — que, diga-se, salvou Lula e o PT de grave crise econômica.
O tal fogo, que de amigo nada tem, começou assim que Dilma, vitoriosa nas urnas, tratou de buscar especialistas que façam aquilo que ela disse nos palanques não ser necessário: um ajuste fiscal.
Pode-se chamar isso de estelionato eleitoral, mas, ao menos, a presidente entendeu que não poderia sustentar um modelo que gasta mais do que arrecada, sistematicamente.
Foi buscar Levy, pessoa certa para este trabalho , como demonstrou ao gerenciar o Tesouro na gestão de Palocci e na Secretaria da Fazenda do Rio de Janeiro, com o governador Sérgio Cabral. Fez jus ao apelido de Joaquim “Mãos de Tesoura”.
Não será a primeira vez na história do Brasil que fases de gastança são seguidas por inexoráveis ciclos de arrumação da casa. A nomeação de Nelson Barbosa para o Planejamento restabelece outra tradição nacional: dividir o poder na área econômica entre dois polos, um mais “ortodoxo”, outro “desenvolvimentista”.
Barbosa é economista respeitado e transita bem pelo PT devido às preocupação com o crescimento, emprego, etc. O clima da entrevista de ontem era, como não poderia deixar de ser, de entendimento e de trabalho compartilhado. O tempo dirá.
Os presidentes parecem se sentir mais seguros com equipes nas quais há sempre um “plano b”, para aplicar em qualquer eventualidade. Mesmo na ditadura militar, generais que ocuparam o Planalto preencheram os dois mais importantes ministérios econômicos, Fazenda e Planejamento, com cabeças de pensamentos diferentes: Médici deu todo apoio a Delfim, sem abrir mão de Reis Velloso; este tornou-se poderoso com Geisel, enquanto Simonsen se preocupava com as contas públicas; depois, com Figueiredo, Delfim foi ressuscitado e Simonsen não aguentou mais o descontrole fiscal. Mesmo com FH, na redemocratização, para um Malan na Fazenda havia um Serra no Planejamento.
Parece voltar a tradição, embora o melhor para o país seja mesmo que Levy e Barbosa se entendam, pois trabalho sério não faltará. E também que o fogo amigo não atrapalhe muito, nem a presidente Dilma tenha recaídas de centralização e onipotência em questões de política econômica.
FONTE ROTA 2014

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