EDITORIAL DO GLOBO
Petistas voltam a bombardear parte da equipe econômica, como fizeram no primeiro governo Lula devido à entrega do BC a um banqueiro e à política de ajuste praticada
Outra semelhança entre a fase inicial do segundo mandato de Dilma com o
primeiro governo Lula — na prática, o segundo governo começou ontem — é o
conhecido “fogo amigo” das falanges radicais do PT contra a equipe
econômica. Sendo mais preciso, contra Joaquim Levy, considerado um
“fiscalista”, um “neoliberal”. Pior, mesmo já tendo servido a Lula,
também trabalhou para os tucanos — foi chefe da assessoria econômica do
Ministério do Planejamento na Era FHC.
Levy será alvo tanto quanto foi Henrique Meirelles, no Banco Central do
primeiro governo Lula,assim como o próprio ministro Palocci, petista
estrelado, mas vítima de ataques por patrocinar uma política de ajuste —
que, diga-se, salvou Lula e o PT de grave crise econômica.
O tal fogo, que de amigo nada tem, começou assim que Dilma, vitoriosa
nas urnas, tratou de buscar especialistas que façam aquilo que ela disse
nos palanques não ser necessário: um ajuste fiscal.
Pode-se chamar isso de estelionato eleitoral, mas, ao menos, a
presidente entendeu que não poderia sustentar um modelo que gasta mais
do que arrecada, sistematicamente.
Foi buscar Levy, pessoa certa para este trabalho , como demonstrou ao
gerenciar o Tesouro na gestão de Palocci e na Secretaria da Fazenda do
Rio de Janeiro, com o governador Sérgio Cabral. Fez jus ao apelido de
Joaquim “Mãos de Tesoura”.
Não será a primeira vez na história do Brasil que fases de gastança são
seguidas por inexoráveis ciclos de arrumação da casa. A nomeação de
Nelson Barbosa para o Planejamento restabelece outra tradição nacional:
dividir o poder na área econômica entre dois polos, um mais “ortodoxo”,
outro “desenvolvimentista”.
Barbosa é economista respeitado e transita bem pelo PT devido às
preocupação com o crescimento, emprego, etc. O clima da entrevista de
ontem era, como não poderia deixar de ser, de entendimento e de trabalho
compartilhado. O tempo dirá.
Os presidentes parecem se sentir mais seguros com equipes nas quais há
sempre um “plano b”, para aplicar em qualquer eventualidade. Mesmo na
ditadura militar, generais que ocuparam o Planalto preencheram os dois
mais importantes ministérios econômicos, Fazenda e Planejamento, com
cabeças de pensamentos diferentes: Médici deu todo apoio a Delfim, sem
abrir mão de Reis Velloso; este tornou-se poderoso com Geisel, enquanto
Simonsen se preocupava com as contas públicas; depois, com Figueiredo,
Delfim foi ressuscitado e Simonsen não aguentou mais o descontrole
fiscal. Mesmo com FH, na redemocratização, para um Malan na Fazenda
havia um Serra no Planejamento.
Parece voltar a tradição, embora o melhor para o país seja mesmo que
Levy e Barbosa se entendam, pois trabalho sério não faltará. E também
que o fogo amigo não atrapalhe muito, nem a presidente Dilma tenha
recaídas de centralização e onipotência em questões de política
econômica.
FONTE ROTA 2014
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