Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

"Dificuldade externa",

  editorial Folha de São Paulo

A fim de fazer um diagnóstico rápido da economia brasileira, basta medir três sinais vitais para perceber os sintomas do desarranjo. A inflação e o deficit externo continuam elevados mesmo tendo o crescimento declinado a quase zero.
Trata-se de um país que despende mais do que consegue produzir.
A inflação é um efeito da escassez relativa de oferta de mão de obra, bens e serviços. Já o deficit externo informa que o Brasil mais compra do que vende no exterior, pois não se encontram por aqui mercadorias em quantidade, qualidade e preço desejados.
Soube-se nesta semana que o deficit externo subiu a 3,73% do PIB, se somados os 12 meses até outubro, nível inédito desde o turbulento início dos anos 2000.
O excesso de despesas no exterior, em moeda forte, precisa ser financiado pela entrada de recursos da mesma espécie. Isso pode ocorrer por meio de investimentos estrangeiros na produção (investimento estrangeiro direto), empréstimos ou aplicações financeiras de não residentes no país.
Cerca de 75% desse passivo tem sido bancado por investimentos estrangeiros diretos, fatia ainda significativa –é mais seguro financiar o deficit dessa forma do que por meio de empréstimos, por exemplo.
Em anos recentes, porém, esses investimentos mais que cobriam o saldo negativo. Aliás, o Brasil teve superavit nas contas externas de 2003 a 2007, um fato raro, devido em especial à conjunção de preços altos de nossas exportações, câmbio favorável e consumo baixo.
O contexto atual é bem outro. O consumo permanece em níveis elevados. Caem os preços das exportações brasileiras. Custos altos e real ainda valorizado prejudicam as vendas industriais no exterior.
Nesse cenário, diminui a propensão dos credores e investidores estrangeiros para financiar o deficit, dadas as mudanças nas finanças internacionais e a percepção corrente sobre os excessos brasileiros. Tal desconfiança transparece na desvalorização do real.
No início dos anos 2000, quando o Brasil tinha dívida externa e baixas reservas em moeda forte, um deficit externo de 3,7% do PIB prenunciaria crise preocupante (seca de investimento estrangeiro e desvalorização aguda do real, seguidas de mais inflação e recessão).
A economia nacional desenvolveu imunidade, mas isso não deve criar ilusões: as turbulências recentes são exemplos de que investidores internacionais consideram o Brasil um caso de risco e podem reduzir de súbito o crédito.
Outra vez, portanto, a recomendação é moderar a demanda, tanto privada como do governo. O Brasil terá de passar por uma desintoxicação dos excessos.
FONTE ROTA2014

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