No seu primeiro pronunciamento desde a prisão de dirigentes de
empreiteiras no escândalo da Petrobrás, a presidente Dilma Rousseff
exaltou o mérito do governo de estar investigando a corrupção “pela
primeira vez na História do Brasil.” Fantástico!
Em primeiro lugar, amigo leitor, o governo não está apurando nada. Ao
contrário. Está sendo investigado. O juiz federal Sergio Moro não é um
contínuo do Palácio do Planalto. É representante de outro poder da
República.
A Polícia Federal, independente e eficiente, não é um departamento
subordinado aos interesses, caprichos e ordens da doutora Dilma
Rousseff. O pronunciamento da presidente da República só pode ter duas
explicações: cinismo ou preocupante desligamento da realidade.
A Operação Lava-Jato vai compondo um quadro de corrupção que arranhou
gravemente a história, a saúde financeira, a marca e o futuro de um
ícone do Brasil: a Petrobrás. A atual presidente da República não é uma
espectadora passiva da tragédia. O escândalo permeou os mandatos de
Lula e estourou com força no atual governo. Dilma foi ministra de Minas e
Energia, chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração
da Petrobrás no governo Lula. A presidente da República, conhecida por
seu perfil centralizador e autoritário, não pode fazer de conta de que
está em outro planeta. Ela está, queira ou não, no olho do furacão.
Chegou a hora verdade para governantes e políticos. A sociedade está
cansada da empulhação. Os culpados pela esbórnia com dinheiro público,
independentemente da posição que ocupem na cadeia corruptora, devem ser
exemplarmente punidos. E isso não significa, nem de longe, ruptura do
processo democrático, golpismo ou incitamento à radicalização.
Dilma Rousseff foi reeleita legitimamente presidente da República.
Pregar um golpe, explícita ou implicitamente, é tudo, menos
comportamento democrático. Isso não significa, por óbvio, admitir
barreiras protetoras absurdas ou chancelas de impunidade. Todos,
incluindo a atual presidente, podem e devem ser responsabilizados por
seus atos.
Os meios de comunicação social existem para incomodar. Um jornalismo
cor-de-rosa é socialmente irrelevante. A imprensa, sem precipitação e
injustos prejulgamentos, tem o dever de desempenhar importante papel na
recuperação da ética na vida pública. Nosso compromisso não é com
celebridades, mas com a verdade, com a informação bem apurada, com os
leitores.
O Brasil está passando por profunda mudança cultural. Transparência nos
negócios públicos, ética e competência são as principais demandas da
sociedade. E a imprensa está sintonizada com essas aspirações.
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