Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A corrupção é nossa



Por Carlos Eduardo Novaes
O Globo -
Do ponto de vista moral, o Brasil se divide em corruptores e corruptíveis, além de uma irrisória fração dos ditos honestos
Segundo o World Economic Forum, o Brasil é um dos países mais corruptos do mundo, afirmação que a população letrada já está careca de saber. Mas, se você ainda tem alguma dúvida — e é leitor do GLOBO —, pegue o exemplar de 19 de novembro e folheie com atenção página por página. Tirante — como diria Stanislaw Ponte Preta — as chamadas da primeira página e as matérias sobre os bilhões que jorraram dos cofres da Petrobras (que se estendem até a página 10), ainda é possível encontrar outras pequenas pérolas de corrupção ocupando as páginas 12 e 13.
São elas: o desvio de R$ 1,5 milhão pelo ex-secretário de Esportes de Itaboraí, denunciado pelo Ministério Público; a fraude de mais de R$ 15 milhões envolvendo o diretor dos Correios no Rio, já denunciado pelo MP; o arquivamento pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados (ora se não!) da denúncia de corrupção do ex-deputado Rodrigo Bethlem; as fraudes de R$ 60 milhões nas licitações da Prefeitura de Mangaratiba. Ou seja, das 20 páginas da cabeça do jornal, mais de dois terços tratam do tema que nos é tão caro (caro para nós, contribuintes). Por que o jornal não cria logo uma seção para a corrupção, como a de Esportes e a de Economia?
A corrupção corta o país de cima a baixo, da cerveja do guarda aos milhões das empreiteiras. Costumo dizer que, do ponto de vista moral, o Brasil se divide em corruptores e corruptíveis, além de uma irrisória fração dos ditos honestos, tão numerosos quanto nossa população indígena. A que se deve afinal este desvio de personalidade? Dizem que tudo começou com os índios tupis quando perceberam o interesse dos portugueses, recém-chegados, em levar para a Europa nossa fauna nativa, araras e papagaios principalmente. Os silvícolas usavam de uma técnica chamada “tapiragem”, que consistia em alterar o colorido das aves para enganar os compradores. Parece que vem dai a expressão atribuída aos portugueses de “chamar urubu de meu louro”.
Foram os portugueses, porém, que disseminaram a pratica da corrupção. Diferentemente dos peregrinos ingleses que desembarcaram na América do Norte para se fixarem e construírem uma nova vida, os portugueses que vieram atrás de Cabral eram uma escória, um bando de renegados e desterrados que só queriam se aproveitar deste terreno baldio sem ninguém, para enriquecer e voltar à terrinha. Pois foram eles que se encarregaram de fiscalizar o contrabando de pau-brasil, aves, ouro e especiarias contra a Coroa Portuguesa.
Não podia dar certo. Mas aqueles aventureiros portugueses estabeleceram um padrão de rapinagem que de lá para cá só faz se aprimorar. Durma com uma corrupção dessas!
Carlos Eduardo Novaes é escritor



fonte averdadesufocada

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