PERCIVAL PUGGINA
A recente decisão tomada pelo Conselho Federal da OAB me fez ver como esses devaneios históricos transitam no Brasil. Devagar e sempre. Demoram mas vão para onde os querem levar. As motivações para que avancem são muitas e graves: é tudo questão de privilégio, poder e dinheiro.
A
notícia me lembrou de um artigo que escrevi em 1999, para o Correio do
Povo. Estávamos, no Rio Grande do Sul, sob o governo petista de Olívio
Dutra, nosso conhecido Exterminador do Futuro. A Secretaria de Educação,
totalmente dedicada à conquista gramsciana da hegemonia, lançara uma
cartilha que tratava obviedades históricas como achados ideológicos do
governo popular e democrático. O texto que escrevi a respeito dessa
cartilha tinha por título "Aqui são outros quinhentos" e, lá pelas
tantas, dizia assim:
"Doravante,
de acordo com o livrinho vermelho dos pensamentos da SEC, passa-se a
ensinar a grande novidade de que havia índios no local do desembarque
ocorrido em 21 de abril de 1500, atribuindo-se a esse episódio,
portanto, o nome de Invasão. Tal verdade histórica estabelece uma
conveniente referência para homologar as práticas do MST. Nesse livreto é
ensinado ao povo que o país chamado Brasil, constitui, há cinco
séculos, um sinistro e gigantesco usucapião lançado contra os primitivos
e legítimos proprietários."
E prossegui, ironizando: "Também
é denunciado, ali, que os ancestrais dos negros e mulatos foram
trazidos para a América como escravos, nos infectos porões de navios
negreiros. Quem ler a cartilha fica com a impressão de que antes do
governo popular e democrático, a versão dominante é a de que os negros
aportaram ao Brasil como turistas, a bordo de confortáveis
transatlânticos. Só a democracia popular e participativa do governo
petista teria permitido arrancar o véu da mentira e revelar para a
História, que os escravos, inclusive, trabalhavam de graça e eram
frequentemente maltratados."
Passados
15 anos, chega a vez da OAB. Transitando ao largo de bibliotecas
inteiras, toneladas de livros escritos sobre o tema em diversos idiomas,
propõe ela que o governo crie uma Comissão da Verdade sobre a
escravidão. A tarefa, é claro, tem que envolver o governo petista.
Qualquer outro, mandaria a OAB cuidar da própria vida. Mas sabe bem a
OAB que se o governo não participar não aparece dinheiro para a
colheita.
Enfim,
na perspectiva dos pais da ideia, tudo se passa como se a vinda dos
escravos africanos fosse um mistério insondável, um autêntico naufrágio
da verdade que agora, felizmente, sob um governo que sabe muito bem
criar e se beneficiar de cisões e ressentimentos, será "resgatada" dos
mais profundos abismos da história universal. Parolagem
político-ideológica que a Secretaria de Educação do governo Olívio Dutra
iniciou no Rio Grande do Sul há 15 anos e que, agora, poderá render um
"fundo de reparação" cuja conta, como sempre, virá para a sociedade. Como será com a farra do "Petrolão", a respeito do qual a OAB nada diz.
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