Nelson Motta O GLOBO
Em Portugal, como na Inglaterra ou na Itália, roubos e falcatruas para favorecer um partido ou candidato não são atenuante, mas agravante
Em Lisboa, estou me sentindo como se estivesse no Brasil: o
ex-primeiro-ministro socialista José Sócrates foi preso no aeroporto,
chegando de Paris, pilhado com pelo menos 20 milhões de euros de
negociatas depositados num banco suíço. Nunca na história desse país, ó
pá. E logo um socialista, que sempre se alardeou homem de vida e posses
modestas, lutando pelos pobres e oprimidos.
Depois de deixar o poder, com o governo socialista derrubado pela crise
econômica que quebrou Portugal, Sócrates estava estudando Filosofia em
Paris e morando num belo apartamento de milhões de euros, aparentemente
alugado, mas na verdade de um testa de ferro, também preso, além do seu
motorista Pedro Perna, que levava o dinheiro vivo para Paris
periodicamente. Ah, os motoristas e secretárias, o que seria dos
corruptos sem eles?
A diferença é que aqui ninguém alega que era para o partido, a causa
popular ou a luta política. Nem levanta punhos. Em Portugal, como na
Inglaterra ou na Itália, roubos e falcatruas para favorecer um partido
ou candidato não são atenuante, mas agravante, porque o objetivo é
fraudar o processo eleitoral e a vontade popular, um crime que não
atinge só uma pessoa física ou jurídica, mas toda a sociedade e a
democracia.
Falando em Itália, quem acompanhou de perto a devastação provocada pela
Operação Mãos Limpas, que investigou 872 empresários, 1.978
administradores e 438 parlamentares, entre eles quatro
ex-primeiros-ministros, e levou centenas à prisão, não tem dúvidas: com o
fim dos partidos tradicionais, mas sem uma reforma política, criou-se o
vácuo em que apareceu Berlusconi, que ficou 20 anos no poder. E deixou a
Itália pior do que antes da Mãos Limpas, com a segunda geração de
partidos mais suja e execrada do que a primeira.
A elite das elites de que Lula tanto fala caiu no arrastão da Lava-Jato,
com amigos e companheiros empresários, administradores, partidos e
políticos unidos para saquear a Petrobras. Espera-se que todos sejam
condenados e punidos, mas depois do vendaval é que mora o maior perigo:
sem uma profunda reforma política, um Berlusconi tropical.
FONTE ROTA2014
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