Bruno Rosa e Ramona Ordoñez - O Globo
Sete Brasil já desembolsou US$ 6,5 bilhões, mas alguns estaleiros nem estão prontos para desenvolver projetos
A Sete Brasil já pagou aos cinco estaleiros que construirão as 29 sondas
de exploração do pré-sal US$ 6,5 bilhões (cerca de R$ 16,2 bilhões),
aproximadamente 30% dos US$ 22,2 bilhões (R$ 55,5 bilhões) contratados,
segundo o balanço financeiro da empresa. Do volume de recursos
liberados, disse uma fonte do setor, a empresa já começou a pagar por
sondas que sequer tiveram suas obras iniciadas. Só cinco estão em
construção. A previsão é que a última seja entregue em 2019.
Sem obter até agora a primeira parcela do financiamento do BNDES, de R$
10 bilhões, a Sete Brasil deve concluir a primeira sonda no início do
segundo semestre de 2015 no estaleiro Jurong Aracruz, no Espírito Santo,
ainda em obras.
A Sete Brasil nasceu em dezembro de 2010 para viabilizar a construção
das sondas do pré-sal no Brasil com estaleiros nacionais. Entre os
acionistas, estão a Petrobras, com 9,75% das ações, os bancos Bradesco,
Santander, BTG Pactual e os fundos de pensão Petros, Previ Funcef. A
Sete Brasil será a dona das sondas, que serão afretadas para a
Petrobras.
Segundo uma fonte, a Sete Brasil foi desenhada a partir de 2008 na
Diretoria de Engenharia da Petrobras, chefiada na época por Renato
Duque, preso na Operação Lava-Jato. Duque teria indicado Pedro Barusco
para uma diretoria na Sete Brasil. Barusco, ex-gerente da estatal e
também investigado na Lava-Jato, admitiu ter enviado para o exterior
dinheiro fruto de propina em obras da Petrobras.
Na época em que a Sete Brasil surgiu, sabia-se que o pacote das sondas
não poderia ficar dentro da estatal, que já apresentava alto nível de
endividamento.
Segundo um documento da Sete Brasil, ao qual O GLOBO teve acesso, a
empresa tem contrato com a Petrobras para afretar 28 sondas por até 20
anos a um custo de US$ 87 bilhões (R$ 217 bilhões).
Segundo essa fonte, como a Sete Brasil já gastou um terço do
investimento previsto com dois estaleiros em construção (Jurong e o
Enseada Indústria Naval, na Bahia) e outros dois em expansão (Atlântico
Sul, em Pernambuco, e o Rio Grande, no Sul), há o risco de a companhia
precisar de mais recursos antes de entregar as últimas sondas, forçando a
uma renegociação dos contratos com a Petrobras. Dos cinco estaleiros
contratados, só o Brasfels, de Angra dos Reis, não passa por reformas.
AUDITORIA EM CONTRATOS
A Sete Brasil abriu auditoria interna nos seus contratos com os
estaleiros, após a notícia de que Barusco está ligado ao esquema de
corrupção na Petrobras alvo da Lava-Jato.
— A questão é que a Sete Brasil firmou com os estaleiros um contrato que
prevê uma grande antecipação de recursos financeiros em relação às
obras físicas. Há risco real de que faltem recursos para concluir as
últimas sondas dos estaleiros, o que pode acarretar em aditivos. Ou
seja, a Sete Brasil terá de renegociar o contrato de afretamento com a
Petrobras — disse uma fonte, frisando que os acionistas da Sete Brasil
rechaçam a possibilidade de aportar mais recursos.
O Atlântico Sul, que tem entre os sócios Queiroz Galvão e Camargo
Corrêa, empresas que tiveram executivos presos na Lava-Jato, fechou
contrato para construir sete sondas. Apesar de a primeira estar prevista
para ser entregue em fevereiro de 2016 e a última em julho de 2019, o
estaleiro já recebeu US$ 1,692 bilhão de US$ 4,637 bilhões — 36% do
total.
O Enseada da Indústria Naval tem entre os sócios Odebrecht, OAS e UTC —
também investigadas na Lava-Jato. Com a primeira sonda para ser entregue
em julho de 2016, o estaleiro já recebeu US$ 1,055 bilhão, 22% dos US$
4,791 bilhões. O Jurong, também em construção, com seis sondas, recebeu
US$ 1,338 bilhão, ou 28,14% dos US$ 4,754 bilhões.
SETE JUSTIFICA ANTECIPAÇÃO
Em relação a esses pagamentos, a Sete Brasil disse que a parcela
adicional de antecipação aos estaleiros “foi prevista como forma de
atrair novos players, ainda sem estaleiro estruturado (em construção)”. A
empresa ressaltou que o “calendário de pagamento em vigor para os
contratos de Engenharia, Suprimento e Construção das sondas segue as
boas práticas, a nível mundial".
O coordenador da
Graduação e Pós-Graduação em Ciências Contábeis e Controladoria do
Ibmec/RJ, Raimundo Nonato Silva, explicou que o preocupante é que a Sete
Brasil ainda não gera caixa e depende do aporte de sócios ou de
empréstimos para honrar compromissos.
— O problema é que se
pagou adiantado e precisa agora honrar seus contratos. A Sete agora está
muito alavancada (endividada). Será difícil um banco privado aportar
mais recursos, e ela não oferece mais garantias. E o BNDES, com todas
essas questões (o escândalo na Petrobras), tomará mais cuidado para
conceder o empréstimo a uma empresa que não apresenta equilíbrio
econômico-financeiro — afirmou o professor.
Segundo o professor do Ibmec, a Sete Brasil ainda não é operacional, pois não gera caixa.
O excesso de passivos (R$
10,9 bilhões) em relação aos seus ativos foi citado pela
PriceWaterHouseCooper, que auditou o balanço da companhia no terceiro
trimestre deste ano. Para o professor, isso faz com que o equilíbrio
econômico-financeiro fique em condição muito instável.
FONTE ROTA2014
Posted in: ARTIGOS
0 comments:
Postar um comentário