Miriam Leitão - O Globo
Exportar os serviços de fornecedores e colaborar para a segurança
energética da Nicarágua. Resumidamente, foram essas as justificativas
apresentadas pela Eletrobrás para o aporte de US$ 100 milhões na
construção da hidrelétrica de Tumarin, tocada em sociedade com a
empreiteira Queiroz Galvão. O investimento foi decidido pelo Conselho da
estatal na reunião de duas semanas atrás — poucos dias após a prisão de
dois executivos de sua sócia na operação Lava-Jato — e confirmado pela
companhia à CVM apenas na noite desta terça-feira.
Há sete dias a Eletrobrás foi questionada pelo blog e estranhamente se
recusou a confirmar o investimento. A construção da hidrelétrica,
estipulada em US$ 1,1 bi, vem sendo estudada desde 2008, mas só saiu do
papel este ano, num momento delicado para a companhia. A Eletrobrás
acumula prejuízos desde que aceitou, em 2012, receber menos do que o
custo da energia que vende. A companhia renovou suas concessões nos
termos da MP 579, que foi recusada pelas empresas do setor que não são
controladas pela União. Em 2012, teve prejuízo de R$ 6,9 bi; no ano
seguinte, outros R$ 6,2 bi; em 2014, acumula perdas de R$ 1,8 bi até
setembro.
No comunicado, a companhia destaca que Tumarin vai suprir 21% da demanda
de energia da Nicarágua em 2019, quando ficará pronta, "bem como
substituirá parte da energia elétrica de fonte térmica à óleo,
contribuindo para uma matriz energética mais limpa e renovável."
O primeiro aporte nesta sociedade com a Queiroz Galvão, explica o
comunicado, foi o investimento inicial de US$ 15 mi ocorrido este ano. A
atuação internacional ajuda no "desenvolvimento de novos mercados para o
segmento de fornecedores de bens e serviços brasileiros", defende a
empresa, que vem tomando empréstimos para cumprir com seu plano de
investimentos no Brasil.
Parte do prejuízo da Eletrobrás se deve ao aumento no preço da energia
que se viu obrigada a comprar no mercado a vista, com a produção menor
de energia. A culpada foi a seca, que esvaziou o lago das hidrelétricas
do país e fez o preço da eletricidade subir. O investimento no exterior
foi decidido, portanto, quando a energia por aqui ficou escassa.
O terceiro sócio de Tumarin seria o governo da Nicarágua, presidida pelo
sandinista Daniel Ortega, que atualmente cumpre um mandato com prazo
indeterminado. Com uma biografia conturbada, o ex-guerrilheiro já havia
sido presidente do país na década de 1980, quando, entre outras decisões
marcantes, deu abrigo ao traficante Pablo Escobar após o colombiano
ordenar a morte do ministro da Justiça de seu país.
Bem como ocorre com a Petrobras, os papéis da Eletrobrás são negociados
na bolsa de Nova York. A empresa, portanto, está sujeita às regras
americanas de governança.
FONTE ROTA2014
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