, por Dora Kramer
A presidente Dilma Rousseff viu no que deu querer ser também ministra da
Fazenda. Não é certeza, mas talvez tenha percebido que achar que
entende de tudo faz mal ao andamento geral dos trabalhos. Quem sabe era a
isso que ela se referia no discurso após a vitória quando prometeu ser
uma pessoa melhor. É de se conferir.
Há um fato, porém, que não necessita de confirmação: a presidente não
sabe absolutamente nada de política na acepção ampla do termo. Passa
longe da compreensão dela o significado de certos atos, não faz uso de
tipo algum de sutileza - ingrediente indispensável ao exercício do poder
-, parece não se importar com os efeitos que suas atitudes causam em
seus subordinados (presentes e futuros) e age da maneira como fala: toda
atrapalhada.
Contrariada, escolheu a pessoa certa para a Fazenda. Supõe-se que tenha
assegurado autonomia a Joaquim Levy que, de outro modo, não teria
aceitado a missão. Ainda mais nessa inusitada situação em que temos dois
ministros: um demitido, sentado no ministério; outro nomeado,
despachando no Palácio do Planalto.
Isso sem falar no processo "indecisório". Escolhido, tudo pronto para a
divulgação oficial, sala arrumada no Palácio, ato adiado sem explicação.
Em seguida, a assessoria fez o que a presidente mandou fazer: diz a
jornalistas que ela ficou muito irritada com o "vazamento" dos nomes
escolhidos para compor a equipe econômica. Como assim, vazamento? Eram
os funcionários do governo que preparavam, pouco abaixo do gabinete
presidencial, a sala onde seria feito o anúncio oficial.
Posse anunciada para amanhã e depois adiada sabe-se lá para quando
porque tampouco se sabe mais quando será aprovada uma votação que é
vitória de fava contada. Ou pelo menos era até a base aliada resolver
fazer jogo duro para aprovar a extinção da meta de superávit primário
para 2014. De onde decorre outra trapalhada da presidente.
Ela não sabe como funciona o Congresso, não conhece as pessoas e parece
não estar preocupada em montar a melhor equipe para fazer essa
interlocução. Resultado: vácuo. Espaço em que ficaram parados os
presumidos ministros Kátia Abreu e Armando Monteiro.
Houve reclamações do PMDB porque a presidente não se "lembrou" (e pelo
jeito o ex-senador e o ex-deputado, ambos do PT, que a assessoram de
perto também não) de avisar ao partido do vice-presidente que escolhera
uma correligionária para ministra da Agricultura.
O jeito foi fazer um novo remendo. Deixar o anúncio oficial de Kátia
para depois, junto com outros nomeados, a fim de "parecer" que a
indicação foi do PMDB do Senado. Esse grau de improvisação e
desorganização é algo inédito e altamente arriscado para o governo, que
fica desguarnecido na área política. Consta que a presidente não se
importa com o que pensam os demais dos mortais.
Mas então que interprete por si mesma os sinais: a oposição se
fortaleceu e a maioria governista é numérica, mas completamente
descompromissada com a presidente. Em matéria de desdém - dela em
relação aos parlamentares - hoje a base aliada não perde a oportunidade
de mostrar que a recíproca é verdadeira.
Portanto, se a presidente Dilma continuar insistindo em fazer as coisas
do "seu jeito", pode se preparar para colecionar muitas derrotas no
Congresso.
Deserto de ideias. Pouco
mais de uma semana depois de desligadas as urnas os institutos Data
Popular e Ideia Inteligência fizeram uma pesquisa sobre as eleições. Um
dos dados mostra que 81% dos brasileiros consideraram que nenhum dos
candidatos apresentou propostas concretas para solucionar problemas do
País.
Os mais velhos são os mais decepcionados: 88%. O estudo "Radar ideia popular" foi realizado entre os dias 4 e 10 de novembro em 128 cidades do Brasil todo.
fonte rota2014
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