Miriam Leitão - O Globo
Aprovado na quarta-feira pelo Conselho, o Plano Estratégico
da Eletrobras para o período 2015-2030 não foi divulgado até a noite
desta sexta-feira. Esse é o capítulo mais recente do descaso da atual
administração da empresa com os contribuintes, acionistas, fornecedores e
reguladores que têm o acesso negado a informações básicas da companhia.
A Eletrobras informa que o plano recém-aprovado não foi divulgado porque
está sofrendo ajustes. O silêncio aumenta quando as perguntas são sobre
a hidrelétrica de Tumarín, empreendimento da companhia em parceria com a
Queiroz Galvão na Nicarágua. O Conselho, controlado pelo governo,
aprovou um investimento de US$ 100 mi no projeto em meados de novembro.
O mês termina sem que a companhia tenha informado, ao menos, o valor
total da obra — supostamente de R$ 2,6 bilhões — que deve ser concluída
em 2019 (saiba mais aqui).
O presidente da Eletrobras, José da Costa Neto, disse na quarta-feira,
num evento, que a usina na Nicarágua "é um empreendimento que vem sendo
estudado desde 2010 e foi analisado com todos os detalhes. Um dos
conselheiros (da estatal) disse que foi o melhor projeto apresentado e
deveria servir de modelo". Se as informações foram apresentadas de
maneira exemplar, por que sonegá-las?
Costa Neto está na presidência da Eletrobras desde 2011. Foi na sua
gestão, portanto, que a companhia aderiu aos termos da MP 579 que fez a
companhia receber menos pela energia do que gasta para produzi-la. Este
ano, o prejuízo acumulado é de R$ 1,8 bi; em 2013 foi de R$ 6,4 bi e em
2012 outros R$ 6,2 bi. Não parece o melhor momento para investir na
Nicarágua.
Minoritários também não tem tido acesso a informações.
A Eletrobras é uma estatal. Seu controle, portanto, é propriedade dos
contribuintes. Como companhia aberta, tem ações negociadas no Brasil e
em Nova York, com vasto quadro de acionistas minoritários. É também a
maior empresa do setor elétrico brasileiro. Sob qualquer prisma,
incluído aí o próprio bom senso, é obrigatório que a empresa seja
transparente, sob o risco de seus administradores se comportarem como
donos.
Em nota distribuída à imprensa na quarta-feira, a administração
presidida por Costa disse que a empreitada na Nicarágua é condizente com
a estratégia da empresa "que objetiva a melhoria da competitividade, a
recuperação da capacidade de investimento e a geração de valor para a
Eletrobras e seus acionistas, conforme previsto no Plano Estratégico
2010-2020". Nada disso condiz com a decisão de 2012, que condenou a
companhia a três anos de prejuízos bilionários. A administração da
Eletrobras tira seus planos da gaveta só de vez em quando.
FONTE ROTA2014
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