Por João Cesar de Melo, publicado no Instituto Liberal
Creio que, enfim, entendi o motivo do
antiamericanismo da maioria dos intelectuais. Os Estados Unidos
representam a vitória do Povão! Povão brega e fanfarrão, mas
independente. Povão que manda no Estado. Povão que ignora a masturbação
filosófica europeia. Povão que, em vez de tentar ser inteligentinho,
prefere se divertir. Povão cujos indivíduos têm liberdade, dinheiro e
provavelmente uma arma dentro de casa.
As acusações de que os Estados Unidos
impõem um “imperialismo” comercial e político ao mundo não passam de uma
cortina para esconder um dos sentimentos mais pobres do ser humano: o
recalque. Recalque doloridíssimo diante do sucesso de uma sociedade
feita de imigrantes e que em pouco mais de um século não apenas
enriqueceu, mas também se tornou a principal referência cultural do
mundo.
Os inteligentinhos daqui e de todas as
partes do mundo não se conformam em ver a cultura americana
influenciando a cultura de todos os outros países. Todas as vezes que um
intelectualzinho brasileiro escuta, aqui, uma música americana na
rádio, no bar, na televisão ou na rua, ele se lembra de que o povão
americano só escuta músicas em sua própria língua. Hollywood trabalha
para os americanos, não para nós. O povão do mundo consome o que o povão
americano produz.
A verdade: os Estados Unidos representam o
maior dos sonhos e o pior dos pesadelos de um intelectual. Sonho por
terem desenvolvido uma cultura tão forte e diversa que sua sociedade não
se interessa por quase nada de fora. Pesadelo por terem feito tudo isso
de forma independente, sem pedir licença à intelligentsia.
O Blues e o Jazz vieram das igrejas
cristãs. Andy Warhol ergueu-se emoldurando como arte aquilo que ainda
hoje, em pleno século XXI, causa calafrios nos inteligentinhos
socialistas. Michael Jackson queria ser branco e o atual presidente é
negro, de origem pobre mas que estudou em Harvard. Rappers não apenas
ficam ricos milionários, como também fazem questão de exibir carrões,
joias e negras de cabelos alisados. Hollywood sustenta-se expondo tanto a
inocência quanto a violência do povão. Artistas criticam o governo.
Toda a indústria cultural dos Estados Unidos é sustentada pelo mercado,
pelo dinheiro privado. Nenhum cineasta, músico, ator ou
pseudo-jornalista vive à custa do governo.
A produção cultural americana se sobrepõe
a da maioria dos outros países por uma única razão: por ser mais
atraente. Eles produzem melhor. Eles divulgam melhor. Eles sabem, como
ninguém, o que o povão quer de ver. Isso faz com que os inteligentinhos
culpem o “imperialismo americano” pela mediocridade da produção cultural
em seus respectivos países. Cineastas culpam as produções americanas
pela pífia bilheteria de seus filmes. Músicos culpam as produções
americanas pela falta de espaço no mercado.
Inteligentinhos culpam os “enlatados”
americanos pela idiotização da sociedade. Recalque! Recalque! Recalque
tão grande que ignoram até o que a história nos conta: culturas são
organismos em constante transformação, influenciando umas as outras
desigualmente, com algumas abrindo caminho dentro das outras na
proporção do interesse que despertam no público. Ou seja: a influência
americana é um fenômeno natural – se não fossem eles, estaríamos sob a
influência de outro país. O Egito influenciou a Grécia, que influenciou
Roma, que influenciou a Europa ocidental… Cá estamos, com nossa cultura
sendo moldada pelo resultado da fusão de todas as culturas.
Em contra-ataque, os recalcados cobram
que o Estado crie barreiras contra a influência da cultura americana sob
a justificativa de… “proteger a cultura nacional!”. Lembro-me de uma
palestra do Ariano Suassuna em Recife, quando ele passou longos minutos
defendendo que o brasileiro deveria usar chapéu de couro em vez de boné.
Aff!
Contudo, não é o sucesso em si que
alimenta o recalque dos intelectuais daqui e de todo o mundo. É o
dinheiro que eles – americanos − ganham com a cultura popular. Dinheiro!
Intelectual nenhum assume que trabalha para ganhar dinheiro, porém,
todos estão sempre tentando arrancar (arrancar!) do Estado as verbas
necessárias não apenas para viabilizar seus projetos, mas principalmente
para bancar seus confortos, perversões e, claro, suas viagens a Paris.
Intelectual diz que não gosta de
dinheiro, mas exige que a sociedade pague todas as suas contas. Sim…
eles se acham evoluidíssimos espiritual e filosoficamente, tanto que
enxergam-se imprescindíveis para a sociedade. Todo o resto da sociedade é
ralé e o entretenimento de massa é a desgraça humana! Por isso, o povão
deveria adorá-los, aplaudi-los e financiá-los. Mas então surgem os
artistas “comercias”, que tomam a atenção e o dinheiro do povo; e esses
artistas comerciais são influenciados pela cultura capitalista e
opressora americana. O recalque os enlouquece…
A certeza: Cada artista ou intelectual
que grita contra o imperialismo cultural dos Estados Unidos consome-se
de inveja do sucesso americano. Invejam sua força e independência.
Invejam a forma como reverenciam sua história e seus ídolos. A breguice e
a fanfarronice da cultura pop americana não lhes incomoda apenas por
sua extravagância estética, mas também pelo dinheiro e pelos aplausos
que seus agentes recebem.
FONTE RODRIGOCONSTANTINO
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