BIANCA PINTO LIMA - O ESTADO DE S. PAULO
MP que corrigia a tabela do Imposto de Renda em 4,5% caducou e, às vésperas do recesso parlamentar, governo ainda não acenou com reajuste
O contribuinte poderá pagar mais Imposto de Renda (IR) em 2015 caso a
tabela progressiva não seja reajustada. A Medida Provisória que corrigia
o valor das faixas em 4,5% no próximo ano caducou no fim de agosto e,
apesar das promessas, o governo ainda não enviou ao Congresso um novo
texto propondo a atualização. O temor é que a mordida do Fisco fique
maior e chegue ao bolso de mais brasileiros.
O tempo hábil para a aprovação de uma nova MP ou projeto de lei ainda em
2014 é curto: os parlamentares entram em recesso daqui a menos de um
mês, no dia 23 de dezembro. A falta de reajuste aumentaria ainda mais a
defasagem da tabela em relação à inflação, um descompasso que cresce ano
a ano.
De 1996 a 2013, a defasagem acumulada foi de 61,42%, segundo cálculos do
Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco
Nacional). Uma discrepância que pode subir para 64,36% em 2014, caso a
inflação feche o ano em 6,40%, como preveem os economistas consultados
pelo Relatório Focus, do Banco Central.
“O fato de a tabela do Imposto de Renda estar sendo corrigida por um
porcentual inferior à inflação já faz com que o contribuinte pague mais
imposto a cada ano. E a situação ficará pior ainda se não houver nenhuma
atualização”, afirma Leandro Souza, gerente sênior da consultoria Ernst
& Young.
O governo ainda tem a possibilidade de aprovar a correção ao longo de
2015, criando duas tabelas para o mesmo ano e depois corrigindo a
diferença no ajuste anual, mas isso atrasaria o acerto de contas. “Neste
caso, em vez de ter uma retenção menor desde janeiro, o contribuinte só
teria esse acerto de contas no outro ano, no momento da declaração de
ajuste anual”, explica Souza. E a restituição ainda poderia ser liberada
somente em dezembro, ampliando o prazo de espera do contribuinte para
quase dois anos.
Salário mínimo. A
defasagem da tabela ainda se soma aos aumentos acima da inflação
aplicados ao salário mínimo nos últimos anos. Em 2014, houve um reajuste
de 6,78% no piso nacional das remunerações, contra uma correção de 4,5%
do Imposto de Renda. Para 2015, está prevista uma alta de 8,8% nos
salários, ante uma correção ainda incerta das faixas do imposto.
O resultado disso é o aumento da tributação sobre o assalariado. Em
1996, a isenção do Imposto de Renda beneficiava quem recebia até oito
salários mínimos, segundo levantamento da Ernst & Young. Relação que
despencou para 2,47 em 2014 e pode chegar a 2,27 em 2015 – caso o IR
não tenha nenhum tipo de atualização. Dessa forma, brasileiros antes
isentos por causa da baixa renda vão paulatinamente ingressando na
condição de contribuintes.
O Presidente do Sindifisco Nacional, Cláudio Damasceno, observa que os
ganhos salariais – tanto por meio da alta do rendimento mínimo como
pelos acordos na iniciativa privada – acabam sendo reduzidos pela
correção insuficiente da tabela do IR. “Os trabalhadores terão o ganho
salarial revertido, pois poderão sair da faixa de isenção ou subir para
alíquotas maiores”, afirma Damasceno.
Pelos cálculos do Sindifisco, considerando a defasagem até 2013, quem
ganha até R$ 2.761 por mês deveria ser isento de IR, mas acaba sendo
tributado, pelas alíquotas de 7,5% e 15%.
Na visão do assessor tributário da OAB Nacional, Luis Gustavo Bichara, a
atual cobrança do imposto viola o conceito do mínimo existencial, já
que atinge pessoas que não possuem uma riqueza mínima para o seu
sustento. “A defasagem da tabela do IR cria um efeito muito perverso,
pois tributa mais quem ganha menos salário”, destaca Bichara.
A OAB tem atualmente dois processos sobre o tema correndo no Supremo
Tribunal Federal. Um, sob relatoria do ministro Luís Roberto Barroso,
pede que a tabela seja corrigida pelo IPCA. Outro, nas mãos da ministra
Rosa Weber, quer que, assim como a saúde, os gastos com educação sejam
integralmente dedutíveis no IR.
Governo. Dias
após a Medida Provisória do imposto perder a validade, o presidente do
Senado, Renan Calheiros, afirmou que o governo editaria uma nova MP para
assegurar a correção dos valores da tabela. A legislação proíbe a
edição de uma nova MP, com igual teor da anterior, no mesmo ano
legislativo. Mas é possível criar um texto diferente, que mantenha os
principais pontos.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também disse à época que a
correção do imposto em 2015 estava garantida, mas não especificou qual
caminho seria seguido. Segundo os cálculos da pasta, a correção
inicialmente prevista, de 4,5%, causaria um impacto de R$ 5,3 bilhões na
arrecadação federal do próximo ano.
FONTE ROTA2014
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