por Merval Pereira
Os conceitos universais comuns às civilizações, como os direitos humanos, ou a democracia, são colocados em causa quando ações como as do Estado Islâmico não respeitam as diferenças, fazendo esvair-se a contemporaneidade do Estado-Nação diante da emergência dos califados.
A Conferência de Omã também debaterá as mudanças conceituais da democracia, questionada pela falta de representatividade de sua representação política e a necessidade de ampliar-se a participação popular com plebiscitos e referendos.
O professor espanhol Daniel Innenarity abordará os riscos que a democracia pode trazer para si mesma com a baixa política. Dois especialistas farão palestras sobre as experiências locais com temas universais como direitos humanos e democracia. Radwan Al Sayyed, do Líbano, falará sobre os direitos humanos no pensamento contemporâneo islâmico. E Abdulrahman Al-Salimi, de Omã, abordará a experiência de seu país com a coexistência e o pluralismo e as perspectivas para sair do impasse. Marco Luchesi, da Academia Brasileira de Letras, falará sobre novas possibilidades de diálogo entre o Ocidente e o Oriente.
Os avanços conseguidos nas relações internacionais com a chegada dos Brics superando a premissa de globalização, ou a superação da relação de centro e periferia, estão confrontados pela existência do Estado Islâmico, e a Conferência de Omã pretende discutir como avançar nas relações internacionais na visão crítica da crença, muitas vezes ingênua, de que se possa chegar à convivência pela intrínseca virtude ou boa vontade do diálogo.
Depois de quase 15 anos de atividade, a Academia da Latinidade chega à Conferência de Omã constatando que é preciso ir além da mera tolerância com o outro, pois o pluralismo não é mais apenas uma regra da coexistência, mas uma prática indispensável.
O Estado Islâmico, no entanto, está aí para mostrar até que ponto o respeito pelo outro é afetado nos dias atuais. As dificuldades do momento por que passa o mundo podem ser compreendidas pelo título do trabalho de Candido Mendes: “A caminho da impossível coexistência internacional”.
Começa hoje em Omã, no Oriente Médio, mais uma conferência da Academia da Latinidade, que reúne intelectuais de diversas partes do mundo para discutir a melhoria da relação entre o Ocidente e o Oriente, desta vez sob a ameaça do que o sociólogo brasileiro Candido Mendes de Almeida, secretário-geral da organização, classifica de “repto-limite à própria noção da coexistência internacional”, o Estado Islâmico. A Academia da Latinidade vem se dedicando à aproximação entre as civilizações e vê com grande preocupação o desaparecimento “do reconhecimento do outro, que identifica a própria noção de progresso e do avanço da vida social contemporânea”.
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