por Dora Kramer
A tese de defesa das empreiteiras pegas na Operação Lava Jato de que
foram vítimas de extorsão no esquema de ilícitos que sangrou a Petrobrás
é frequentadora assídua do noticiário sobre escândalos de corrupção.
Os advogados buscam refúgio na mesma alegação esfarrapada de políticos
que, flagrados diante do indefensável, transferem a culpa de seus atos
para os defeitos do sistema. Quem resume a ópera desta vez é o defensor
do lobista Fernando Soares: "Não se põe um paralelepípedo no chão sem
acerto". Só se faz obra com pagamento de propina e composição ilícita
com políticos, diz ele.
Na Petrobrás e certamente em outras estatais, bem como nas instâncias
estaduais e municipais Brasil afora. É o que ele traduz como "cultura do
País".
No mundo político, quando surge o assunto o costume é transferir a
responsabilidade das malfeitorias para o sistema político, partidário e
eleitoral, saindo-se em seguida na defesa veemente da "urgente" reforma
política sem a qual não será possível resolver nada. E, como vemos há
anos, ninguém se mexe para resolver nada.
Inclusive porque o problema não está na reforma das regras, mas na mudança de procedimento das pessoas.
Os políticos alegam que o sistema os obriga a buscar muito dinheiro
junto a empresas que, por sua vez, ficam credoras das doações de
campanha cobradas depois na forma de favores durante o exercício dos
mandatos.
Já as empresas justificam que só conseguem contratos se aceitarem
acordos escusos com funcionários e políticos aboletados na máquina
loteada.
Funciona assim e ficam todos muito felizes e bem acomodados até que
estouram os escândalos. E aí a culpa é do sistema. Ora, e quem põe o
sistema para funcionar? As pessoas que dele participam. A tese da
extorsão não é crível pela simples razão de que nenhum dos sócios desses
tipos de "clubes" saiu perdendo com os negócios.
Gastaram rios de dinheiro com o pagamento das propinas, mas compensaram o
que seria um prejuízo superfaturando o valor dos contratos. Então, por
favor, vamos ter claro um fato: os únicos prejudicados foram os cidadãos
desavisados. Todos eles sabiam perfeitamente que transitavam pelo
terreno da mais absoluta e deslavada ilegalidade.
Quando a coisa fica difícil, ficam todos com carinha de anjos de candura
amarrados pela cintura. Mas, assim como fez o então procurador-geral da
República Antonio Fernando de Souza no caso do mensalão, o atual,
Rodrigo Janot, já transmitiu o recado: "Vamos combinar que nessa
situação não existem idiotas nem patetas. Ninguém é obrigado a aceitar e
ganhar dinheiro com atividade ilícita".
É isso. A quem não quer participar é dada a prerrogativa de ficar de fora ou denunciar.
Corda bamba. A
possibilidade da ida de Joaquim Levy para a Fazenda contemplaria a
ideia do ex-presidente Lula de resgatar a confiabilidade nos fundamentos
da estabilidade econômica. O governo põe isso em questão ao adiar sem
explicação o anúncio da nova equipe.
Ademais, no processo de escolha do novo ministro, sob o aspecto político
ficou um fio solto. Há uma regra básica no ritual de convites feitos a
possíveis ministros: são cercados de discrição, precedidos de sondagens e
divulgados após a certeza de que serão aceitos, a fim de não expor a
constrangimento a figura presidencial.
Pois no caso do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, ocorreu
justamente o contrário: o governo fez questão de dar à dupla recusa um
tom de estardalhaço.
Ficou parecendo que o setor privado quer distância do governo. Se houve
profissionalismo de inspiração maquiavélica, poderia sugerir intenção de
queimar indicação assinada por Lula. Caso seja esta uma hipótese
excessivamente conspiratória, deu-se um episódio de atrapalhado
amadorismo.
fonte rota2014
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