editorial do Estadão
Em contraste, e sem surpresa, a economia brasileira continua em marcha lenta, embora possa ter avançado, entre julho e setembro, com um pouco mais de vigor que no primeiro semestre. Nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve divulgar novas informações sobre o Produto Interno Bruto (PIB). Mas os números da produção industrial, do investimento e do comércio exterior conhecidos até agora sugerem um resultado geral muito ruim no período pós-Copa.
A firme expansão econômica e a redução do desemprego nos Estados Unidos consolidam as condições para um aumento de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Em outubro a desocupação caiu para 5,8%, segundo os últimos números do Departamento do Trabalho.
Além de manter os juros entre zero e 0,25% por vários anos, o Fed emitiu dinheiro fartamente para estimular o crédito e animar os negócios. Os incentivos monetários foram gradualmente reduzidos e finalmente suspensos. Essa mudança e a perspectiva de juros mais altos já afetaram os mercados de câmbio e de financiamentos na maior parte do mundo.
O ambiente ficou menos favorável a quem precisa de capital estrangeiro e pode tornar-se pior nos próximos tempos. Mesmo pagando juros muito altos, o governo brasileiro tem tido problemas para lançar no mercado novos títulos federais. O volume resgatado tem sido maior que o das novas emissões. De janeiro a outubro o total de resgates ficou R$ 160,14 bilhões acima do valor dos papéis emitidos, segundo confirmou o Tesouro nesta semana. Com liquidação maior que o lançamento de novos papéis a dívida diminuiu, mas ficou mais cara, porque a redução do endividamento ocorreu por um motivo ruim: a inegável insegurança dos investidores diante do cenário internacional e das perspectivas da economia brasileira.
O quadro internacional está fora do alcance das autoridades brasileiras. Mas o governo pode esforçar-se para melhorar sua imagem e sua credibilidade. A mudança da equipe ministerial é uma oportunidade para isso. Mas a escolha de bons nomes é só uma parte da solução. Falta a presidente Dilma Rousseff indicar claramente a disposição de mudar o estilo e o rumo da política econômica. Não há como disfarçar os efeitos desastrosos do tal modelo macroeconômico do primeiro mandato.
Com uma política mais sensata, o governo poderá atenuar os maus efeitos do aperto monetário nos Estados Unidos e criar condições para o Brasil aproveitar as oportunidades criadas pela recuperação americana. O quadro internacional está longe de ser festivo, porque grandes economias da Europa, assim como a japonesa, continuam em situação precária. Mas os sinais positivos estão longe de ser desprezíveis.
A maior economia do mundo, a americana, continua em recuperação. A segunda, a chinesa, está em ajuste e cresce menos que nas duas décadas anteriores, mas ainda se expandirá, nos próximos anos, a taxas próximas de 7% ao ano. Na Europa, o Reino Unido vai bem e a Alemanha, embora tenha perdido impulso, continua saudável.
A economia global deve crescer 3,3% neste ano, 3,7% no próximo e 3,9% em 2016, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os números estimados para os Estados Unidos são 2,2%, 3,1% e 3%. Para a zona do euro, 0,8%, 1,1% e 1,7%. Para a China, 7,3%, 7,1% e 6,9%. Feio, mesmo, no quadro global, é o desempenho estimado para o Brasil: 0,3% neste ano, 1,5% em 2015 e 2% em 2016. Esses números poderão ser melhorados um pouco, se os empresários tiverem confiança, mas o maior desafio será a reconstrução das bases do crescimento.
FONTE ROTA2014
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