editorial de O Globo
A Sete Brasil, em que a Petrobras se associa a bancos privados e fundos de estatais, é projeto-símbolo de um plano que reproduz política da Era Geisel, inclusive seu fracasso
Como toda crise, o escândalo histórico de corrupção na Petrobras aponta
falhas, necessidade de reformulações em sistemas de gestão, e assim por
diante. O caso chama, ainda, a atenção para algo que já se sabia: os
enormes riscos que o Erário corre com o projeto de inspiração estatista
de utilizar-se a exploração do pré-sal como alavanca para um anacrônico
programa de substituição de importações de equipamentos na área de
petróleo.
Tudo no mais bem acabado figurino da política seguida pelo penúltimo
governo da ditadura militar, do general Ernesto Geisel, inspirada num
modelo tropicalizado de capitalismo de Estado. Naquela época, na segunda
metade da década de 70, a ambição era bem maior — produzir internamente
máquinas, equipamentos e insumos básicos químicos e petroquímicos,
antes importados.
Com o lulopetismo no comando da Petrobras, o objetivo é mais modesto,
porém a fórmula do fracasso, a mesma: apoio firme do dinheiro público
distribuído pelo BNDES, e sociedade da Petrobras com empresários
privados, os quais abandonarão o barco e deixarão o prejuízo para a
Viúva, assim que o empreendimento fracassar. Não deu certo no passado,
não dará agora.
O mérito do escândalo, nessa questão, é projetar luz sobre a situação
difícil de um empreendimento-símbolo deste projeto dirigista acoplado à
exploração de áreas do pré-sal pelo modelo de partilha. É a Sete Brasil,
fundada no final de 2010, para permitir a produção de sondas no país
capazes de operar na região de águas profundas em que se localizam os
mais promissores blocos do pré-sal.
A empresa tem contratos com a estatal de afretamento de 28 sondas, uma
garantia de mercado criada para incentivar sua produção internamente. No
mundo das ideias, tudo muito lógico e promissor — como o megalomaníaco
programa de substituição de importações de Geisel. Mas, na vida real, a
situação é outra.
A Sete Brasil já pagou a cinco estaleiros US$ 6,5 bilhões, um terço do
valor total contratado. Porém, apenas cinco de 29 sondas previstas
começaram a ser montadas. O descompasso se explica pela necessidade de a
Sete Brasil — em que a Petrobras se associa ao Bradesco, Santander, BTG
Pactual e a fundos de pensão de estatais — adiantar dinheiro para que
os estaleiros sejam construídos. E em alguns estão associadas
empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção.
FONTE ROTA2014
0 comments:
Postar um comentário