BEATRIZ BULLA - O ESTADO DE S. PAULO
Titular da Justiça, Cardozo afirma que País passa por processo ‘doloroso’ e critica cidadão que reclama dos políticos, mas comete ilícitos na vida privada
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, criticou nesta sexta-feira,
21, a "cultura social" brasileira, na qual "público e privado se
misturam", sugerindo que o comportamento da população está entre as
"causas" da corrupção no País. De acordo com o ministro, a classe
política é um "reflexo da sociedade" que, ao não distinguir o público e o
privado, escolhe sem esse critério seus representantes "e depois os
reprime sem olhar para si".
As afirmações foram direcionadas aos que criticam os atos de corrupção da classe política, mas cometem ilícitos na vida privada. "O mesmo empresário que por vezes protesta, e com razão, dos desmandos dos nossos governantes é aquele que quando chega um fiscal de renda diz: ‘Bem, como podemos acertar isto?’", criticou.
"Vivemos numa sociedade que até o síndico de prédio superfatura quando
compra o capacho. E é o mesmo síndico que por vezes sai protestando
dizendo ‘esses políticos’. Políticos eleitos por ele", disse Cardozo, em
evento da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).
Para o ministro da Justiça, pode-se dizer, ao mesmo tempo, que o Brasil
vive e não vive uma República. As críticas dos brasileiros à corrupção
entre os políticos, para Cardozo, são legítimas e a disseminação de
práticas irregulares na sociedade não serve de desculpa para
parlamentares e governantes que agem em desconformidade com a lei. "É
evidente que temos que punir todos os corruptos, mas temos que atacar
frontalmente as causas da corrupção."
O ministro lembrou situações desde a chegada dos portugueses ao Brasil
para apontar que o País tem um "histórico" que mostra que a distinção
entre o público e o privado "não vem na nossa origem". "Ainda vivemos
sob o peso dos nossos mortos. E estamos tentando aliviá-lo."
Cardozo defendeu o avanço na reforma política para superar os problemas
atuais e disse ser favorável ao financiamento público de campanhas
eleitorais. A forma atual do financiamento, para ele, é um ponto
permanente de geração de corrupção. "Ou fazemos uma reforma política no
Brasil ou continuaremos a conviver com uma mentalidade promíscua nas
próximas décadas em relação a financiamento eleitoral e à forma na qual
os nossos representantes são eleitos", disse Cardozo.
Lava Jato. Na
saída do evento, questionado sobre os desdobramentos da Operação Lava
Jato, que investiga suspeita de corrupção e pagamento de propinas na
Petrobrás, Cardozo defendeu um "equilíbrio" para que eventual punição
das empreiteiras envolvidas na investigação não impeça a continuidade de
obras públicas no País. "É fundamental que quem praticou atos ilícitos
seja punido, mas ao mesmo tempo temos que fazer com que a economia do
País não seja atingida", disse.
Para o ministro, a legislação brasileira permite a possibilidade de
combinar "sanções duras e rigorosas com o saneamento necessário para que
a vida econômica não seja atingida". Na semana passada, o advogado de
um dos investigados chegou a dizer que não se faz obra pública no Brasil
"sem acerto".
FONTE ROTA2014
0 comments:
Postar um comentário