por João Bosco Rabello
Pode ser que de volta das férias pós-eleitorais a presidente Dilma
Rousseff corrija o discurso errático da vitória, em que diálogo e união
são apelos apenas retóricos.
Mas, por ora, o tom que trai o discurso foi dado pelo líder do PT no
Senado, Humberto Costa, ao classificar os críticos dos conselhos
populares de "débeis mentais".
O destempero de Costa foi dirigido aos jornalistas que criticaram o
decreto de criação dos tais conselhos, mas ao atacá-los estende os
impropérios à maioria parlamentar que derrubou a proposta, enviada ao
Congresso mesmo o governo ciente de que seria derrotada.
O PT parece desconhecer o tamanho da crise que Dilma herda de Dilma. Na
economia, o cenário ocultado na campanha exibe números assustadores:
rombo de R$ 20 bilhões nas contas públicas, aumento imediato dos juros,
ao que se seguirá o da gasolina, asfixia do setor elétrico, entre tantos
reveses de uma longa lista.
No campo político, não disporá da trégua concedida a novos governos. A
vitória apertada da reeleição favorece as dissidências formadas na base
na campanha, com um PMDB motivado pela redução da bancada do PT a buscar
a isonomia no tratamento político com o rival na estrutura de governo.
A oposição também cresce em número e motivação, com PSDB, DEM, PSB e
PPS, em diferentes graus de atuação, unidos na disposição de impor ao
governo o exercício político ao qual se recusou desde a opção pelo
esquema de cooptação dos partidos que compõem sua extensa base de
sustentação.
O modelo de cooptação encontra seu esgotamento nas consequências
judiciais que gerou, no mensalão e, agora, na Petrobrás. Não acabará da
noite para o dia, mas está mais vigiado e inibido pelo medo que as
prisões já executadas - e as previsíveis - incutem no ambiente político.
A derrota recente não é o que preocupa o governo. Significativa é a
liberação da bancada da Câmara para que seu líder, Eduardo Cunha (RJ),
construa sua candidatura à presidência da Casa. É uma resposta imediata
ao presidente da legenda, Michel Temer, que defendeu a vez para o PT. A
situação de Temer é difícil, pois atua contra o interesse do partido, em
nome de uma pouco sedutora tese de unidade da base aliada.
O gesto de Temer atiça, de outro lado, o ânimo já alto da oposição para
impedir que o PT chegue à presidência da Casa. O cenário indica que
haverá, pelo menos, três candidaturas postas para a sucessão de Henrique
Eduardo Alves - a de Cunha, pelo PMDB; de Arlindo Chinaglia ou Marco
Maia, pelo PT; e de Júlio Delgado (PSB), ou outro nome, pela oposição.
FONTE ROTA2014
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