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06:22
ANDRADEJRJOR
por Merval Pereira O GLOBO
Há pelo menos duas situações nessa operação Lava-Jato que chamam a
atenção do cidadão comum, uma causando genuíno espanto, outra esperança
de que o processo venha a ser bem sucedido ao seu final, seguindo os
passos do mensalão, de cujo enredo o petrolão é sequência lógica. Que o
diga o juiz Sérgio Moro, que assessorou a ministra Roa Weber no
julgamento do mensaão.
Causa espanto em todas as rodas o volume de dinheiro desviado por esse
esquema criminoso instalado dentro da Petrobras. O que definiu o tamanho
do escândalo foi a notícia de que o ex-gerente da Petrobras Pedro
Barusco concordou em devolver cerca de US$ 100 milhões desviados da
companhia.
Ele era o sub de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras preso na Operação
Lava-Jato da Polícia Federal, e fez acordo de delação premiada. Embora
tenha seu nome mencionado no relatório do Ministério Público Federal,
Barusco não foi preso por ter feito o acordo, e é apontado por vários
dirigentes de empresas como o responsável por operacionalizar a propina
que era paga ao ex-diretor.
Parte do dinheiro já foi apreendida administrativamente, como US$ 20
milhões em nome de Barusco na Suíça. Se o subordinado tem condições de
devolver tanto dinheiro, quanto não terá desviado o chefe, que era o
diretor diretamente nomeado pelo PT, indicado pelo ex-ministro José
Dirceu no tempo em que era o capitão do time de Lula. Não é à toa,
portanto, que Duque é dos poucos presos que não está disposto a aderir à
delação premiada, pelo menos por enquanto. A prorrogação de sua prisão
tem o objetivo de levá-lo a falar.
Já parecem pouco os U$ 23 milhões que o ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa prometeu devolver, no primeiro gesto de desapego
estimulado pelas regras de delação premiada. Fora o tamanho do dinheiro
envolvido nas diversas operações, está chamando a atenção o
profissionalismo com que o Ministério Público e a Polícia Federal estão
agindo, sob a coordenação do juiz Sérgio Moro que, como especialista em
lavagem de dinheiro, está seguindo normas estritas para identificar o
caminho do dinheiro, até chegar aos corruptores e aos corruptos. Está
seguindo o conselho que o Deep Throat nunca deu aos repórteres do
Washington Post, mas ficou célebre: "Follow the money" ( Sigam o
dinheiro).
O Juiz está tomando também todos os cuidados, desde o primeiro momento,
para evitar desvios que possam impugnar as provas do processo, mas tem
sido rigoroso no cumprimento da lei. As empreiteiras haviam proposto, na
semana da prisão em massa, um acordo conjunto para pagarem uma multa
bilionária que zeraria o processo para um recomeço dentro de novas
regras.
O acordo não foi aceito, pois ele implicaria a falta de punição dos
corruptores. A partir da decisão do juiz, que mandou prender donos e
altos executivos das empreiteiras, as empresas estão tentando um acordo
de repactuação com a Corregedoria Geral da União, o que tem o respaldo
do Tribunal de Contas da União (TCU).
A ideia é não paralisar as obras das empreiteiras espalhadas por todo o
país. A repactuação implica a redução dos custos superfaturados e a
devolução do sobrepreço já pago pela Petrobras, mas não evitará que os
executivos implicados sejam incluídos no processo.
Além disso, os promotores encarregados do caso estão deixando para
tratar dos políticos envolvidos na corrupção da Petrobras por último,
justamente para não criar um ambiente que dificulte as investigações.
Mesmo figuras que não têm mandato, como o ex-presidente da Petrobras
José Sérgio Gabrielli, hoje secretário do governo da Bahia, e João
Vaccari Neto, o tesoureiro do PT, ainda não foram incluídos na lista dos
que serão arrolados para depoimentos na Polícia Federal. Ambos, e
outros ainda, têm laços políticos fortes e poderiam criam embaraços para
as investigações.
Não divulgando a lista de políticos e assemelhados envolvidos no esquema
de corrupção da Petrobras, o juiz Sérgio Moro ganha também tempo para
consolidar na opinião pública a imagem de independência e imparcialidade
com que a operação está sendo conduzida, impedindo sua partidarização.
FONTE ROTA2014
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