ROBERTO MACEDO - O ESTADO DE SÃO PAULO
Amplio imagem criada por Rubens Ricupero em artigo na Folha de S.Paulo
(10/11). Assim ele avaliou o resultado da eleição presidencial: "... o
governo não venceu, apenas repetiu de ano. Ou melhor, passou com nota
raspando. Passou com um cacho interminável de dependências". Professores
lidam com alunos repetentes de ano ou promovidos com umas poucas
dependências, as "depês". Alguns também costumam carregar temperamento
mais propenso a justificar erros do que a corrigi-los.
Cursando Presidência da República, Dilma passará ao segundo mandato com
excesso de dependências, e com aprovação em larga medida dada por
eleitores-professores que se consideram dependentes dela. Mas, sem
aprender com erros, comporta-se mais como uma professora mandona. Bons
professores se pautam por uma frase de Ruy Barbosa: "Professor nunca o
fui; aluno, prezo-me de sê-lo". Ela tampouco se coloca como aluna, para
perceber que o aprendizado precisa ser permanente e indispensável para
ensinar. E, também, admitindo erros, pois trazem lições na direção dos
acertos.
No seu magistério costuma lecionar e aplicar teorias mal sustentadas
empiricamente, às vezes recebidas de "amigos" que professam, entre
outras coisas, que o crescimento econômico vem essencialmente da
ampliação da demanda. E equivocadamente se ancoram num economista,
Keynes. Este se tornou famoso ao analisar as circunstâncias de uma
depressão econômica, num livro de 1936, sua Teoria Geral. Nele enfatizou
essa ampliação como saída, mas como política de curto prazo, sem tratar
do crescimento econômico sustentável no médio e no longo prazos.
Noutras obras, entretanto, abordou o assunto, como em 1930 no texto
Possibilidades econômicas para nossos netos, em que disse que a "...dade
moderna se abriu (...) com a acumulação de capital (...) e o
crescimento foi impulsionado pelo poder da acumulação (de capital) e
rendimentos compostos". Ou seja, com os rendimentos se acumulando e
gerando novos rendimentos (tradução minha). Modernamente o capital tem
dimensões que incorporam, além de ativos fixos e financeiros, a
tecnologia e o "capital humano", este acumulado mediante educação e
treinamento.
A acumulação de capital se dá por investimentos que geram demanda
sustentável, mediante pagamentos a fatores de produção, como os
trabalhadores que com seus gastos estimulam a produção de outros bens e
serviços, multiplicando o efeito do investimento inicial. No Brasil, o
modelo dilmista enfatizou a ampliação da demanda dos consumidores via
crédito e, assim, esbarrou no fato de que eles se endividam e acabam se
retraindo nos seus gastos, como ocorre hoje. Na ação governamental,
também expandiu mais gastos de consumo do que investimentos, interveio
em vários mercados e segue gestão fiscal temerária, o que gerou um
quadro de perplexidade e incertezas que desestimula os investimentos
privados.
Examinemos agora a gestão econômica de Dilma olhando suas "depês". Em
Política Fiscal, foi reprovada por sua criatividade ao transformar
resultados negativos em "positivos". Em Economia Internacional, a
reprovação veio de uma prova em que recebeu contas externas equilibradas
e lhes deu direção contrária. Em Política Anti-inflacionária, achou que
a inflação vinha de aumentos transitórios de preços, ignorando fatores
responsáveis por seu agravamento persistente. Em Gestão Setorial, suas
respostas causaram dificuldades a setores importantes, com destaque para
o de petróleo, o sucroenergético e o elétrico.
Com mais quatro anos para arrumar seu histórico escolar com essas e
outras "depês", só há uma saída. Recorrer a professores hoje fora do
governo e de notória competência, para tomar aulas, reconhecer seus
erros e mudar suas práticas, da mesma forma que estudantes buscam
professores particulares nessas circunstâncias. Não precisam ser muitos,
ao contrário dos 39 ministros que a assessoram, sem chance de falar
sequer dez minutos nas reuniões ministeriais, com o que elas tomariam
seis horas e meia. Nem de realizar reunião mensal com a presidente que
durasse uma manhã ou uma tarde, pois isso absorveria perto de 20 dias da
agenda presidencial mensal. Dilma sempre posou de gerentona, mas no
filme presidencial também se mostra mandona e centralizadora. Assim,
Gestão Governamental também caberia no curso que faz ou noutro de
especialização.
Ao final, ao deixar esse curso, o que faria? Uma pista está no conselho
que deu a uma colega economista, cearense e desempregada, que no último
debate eleitoral, o da Rede Globo, foi aconselhada a procurar o
Pronatec. Confesso que me surpreendi com o conselho, pois imaginava que
esse programa fosse focado no nível médio, mas vi no seu site que também
oferece cursos "superiores de tecnologia, licenciaturas e programas de
pós-graduação". Mas teria de mudar de área, pois não vi nada de
Economia.
Ricupero também contou que em janeiro de 1985 acompanhou Tancredo Neves
numa viagem ao exterior, logo após a eleição deste para presidente. Ao
passar pela Espanha, Tancredo perguntou ao então primeiro-ministro do
país, Felipe González, qual era o segredo do sucesso de seu governo. A
resposta: "Escolha um bom ministro da Economia e 80% de seus problemas
estarão resolvidos".
Com a economia brasileira do mau jeito em que está, tal conselho faz
sentido, ainda que talvez exagerado nos 80%. Sem uma nova e competente
equipe econômica, e a disposição de delegar a essa equipe a tarefa de
arrumar a economia, Dilma corre o risco de terminar seu segundo mandato
sem aprovação.
E, também, de não ter aprovação eleitoral para voltar depois de quatro
anos fora, o que equivaleria a uma jubilação, ou seja, à impossibilidade
de se matricular novamente no curso que mal faz, esse de Presidência da
República.
*Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard)
FONTE ROTA2014
FONTE ROTA2014
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