por Eduardo Giannetti
Folha de São Paulo
O enredo foi dramático e tortuoso ao extremo, mas o desfecho seguiu a
convenção do gênero: o trator governista garantiu a vitória da
presidente, como é praxe desde a adoção da reeleição. A incerteza sobre o
resultado das urnas deu lugar à dúvida sobre os rumos da política
econômica no segundo mandato. Curva de aprendizado ou aposta redobrada?
É difícil não carregar nas tintas: economia em recessão; investimento em
queda livre; deficit fiscal elevado; inflação alta e artificialmente
represada (preços administrados e câmbio) e volta da vulnerabilidade
externa (deficit em conta corrente acima de U$ 80 bilhões em 2014).
Se Lula 1 preparou o terreno para o avanço social em Lula 2, o estrago de Dilma 1 ameaça sepultar essa conquista em Dilma 2.
Considerando a gravidade do quadro, não deixa de haver justiça na
recondução de Dilma ao Planalto. Quem armou e subestimou o tamanho da
encrenca que cuide dela agora. À vencedora, os pepinos.
Dois cenários básicos se delineiam. O primeiro, menos pessimista, é o da
curva de aprendizado. Passado o ardor da campanha, o governo admite
pelo menos parte dos erros cometidos e promove uma correção de rumos.
Como a reputação não ajuda, isso exigirá bem mais que juras, jogo de
cena e abertura ao diálogo. Exigirá transparência e resultados, com
ênfase na área fiscal, além de uma presidente que aceite abrir mão da
condição de patroa de uma equipe econômica café com leite.
Alguns indícios reforçam este cenário. Com anos de atraso, o governo
avançou no marco regulatório para o investimento privado em
infraestrutura; aceitou reduzir os repasses da bolsa-BNDES e descobriu
que não é capaz de baixar os juros no grito. Economistas próximos ao
governo tornaram-se críticos abertos da "nova matriz" e o ministro da
Fazenda está de "aviso prévio".
O outro cenário é o da aposta redobrada. A reeleição seria a prova do
sucesso e o sinal verde para ir até o fim. Não fosse a conjuntura
externa adversa, tudo teria sido ainda melhor do que foi. Vale aqui o
princípio da contra-indução, enunciado por Mario Henrique Simonsen: "uma
experiência que dá errado inúmeras vezes deve ser repetida até que dê
certo".
Entre os elementos de apoio à aposta redobrada destacam-se: a retórica
agressiva e populista da campanha, incluindo a desmoralização do Banco
Central e o autismo fiscal; o estado de negação em que vivem expoentes
do petismo e a dificuldade da presidente em admitir erros e delegar
poderes.
Some-se a isso a bomba-relógio do petrolão, a queda de preço das
commodities, a alta dos juros americanos e a eventual perda do "grau de
investimento" e a conclusão é só uma: a Argentina é logo ali.
FONTE ROTA2014
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