CARLOS ALBERTO SARDENBERG - O GLOBO
Como não desconfiaram dos seguidos aditivos, que adicionavam novos custos às obras e novos prazos?
Como é que a Petrobras pode ter cometido tantos erros? Pois, antes de
mais nada, é um erro empresarial brutal começar a construir uma
refinaria, esta mesmo, a de Pernambuco, calculando que vai custar US$ 4
bilhões, depois gastar US$ 18 bilhões, e a obra ainda não está pronta.
Mesmo que tudo tivesse sido feito com a maior honestidade, é evidente
que as diretorias da empresa e seu Conselho de Administração fizeram uma
péssima gestão.
Como é que não perceberam que o negócio estava errado?
Essa mesma pergunta pode ser dirigida a todos os dirigentes honestos que
não perceberam o tamanho do desastre e a corrupção que se praticava na
empresa. Ou perceberam e não puderam contar aos demais órgãos de
controle?
Como ninguém desconfiou dos seguidos aditivos, que adicionavam novos
custos às obras e novos prazos? Reparem, não um, mas todos os
investimentos relevantes ficavam cada vez mais caros e demoravam mais
tempo.
Lembram-se do que disse o ex-diretor Paulo Roberto Costa quando
perguntado, no Congresso, sobre o aumento dos custos da Refinaria Abreu e
Lima? Que o projeto inicial estava errado, fora feito em cima das
pernas. Na ocasião, não falou das propinas que entregaria na delação
premiada. Mas ele tinha razão em apontar o improviso como uma das causas
do problema.
E isso remete a responsabilidade administrativa e política ao
ex-presidente Lula. Foi ele mesmo que disse, em entrevista publicada
pelo jornal “Valor”, em 17 de setembro de 2009, quando o país saía da
crise. O então presidente reclamava que empresários brasileiros eram
conservadores no investimento, que era preciso partir para o ataque.
Exemplificou contando que até a diretoria da Petrobras lhe apresentara
um plano de investimento que ele considerou pífio. O que fez? “Convoquei
o Conselho da Petrobras para dizer: ‘Olha, este é um momento em que não
se pode recuar’. Até no futebol a gente aprende que, quando se está
ganhando de 1 x 0 e recua, a gente se ferra.”
A Petrobras partiu para o ataque, programou não uma, mas logo quatro
refinarias e ampliou o projeto do complexo Comperj, no Rio. As
sucessivas diretorias, já entrando pelo governo Dilma, foram levando a
coisa (sem notar nada?), até que a situação tornou-se absurda. Diziam:
qual o problema com a refinaria de Pasadena? Apenas um mau negócio.
Abreu e Lima vai custar cinco vezes mais? Acontece nas grandes obras.
Mesmo que não tivesse sido roubado um centavo, todas as diretorias e o
Conselho de Administração incorreram em grave erro de gestão, causando
enorme prejuízo para o patrimônio público, para os acionistas privados e
para os trabalhadores.
Poderiam ao menos dizer: “Desculpa aí, pessoal, foi mal.”
A situação é ainda mais complicada do que parece. Sendo óbvio que está
muita coisa errada, diretores e gerentes da estatal da turma do bem têm o
compreensível temor de assinar qualquer papel, muito menos um contrato
que gaste dinheiro. Fornecedores da companhia e de empresas que
trabalham para a Petrobras reclamam de atrasos nos pagamentos e informam
que serviços estão sendo paralisados.
Sim, há uma parte da Petrobras que continua tirando petróleo e gás. Mas o
ambiente geral na companhia vai prejudicar toda a atividade.
DÉFICIT = SUPERÁVIT
O nome do futuro ministro da Fazenda está na cara: o senador Romero
Jucá. Com apenas uma palavrinha, ele resolveu o problema das contas
públicas. Em vez de escrever na lei o valor em reais do superávit
primário, o senador sugeriu que se trocasse “meta de superávit” por
“meta de resultado”.
Mas qual resultado? — é a pergunta que uma pessoa menos iluminada faria.
Bobagem. O senador, relator do projeto de lei que muda a regra, explica
que não se deve fixar o resultado esperado. Porque, se se fixa um
superávit e no final dá um déficit, o pessoal, maldosamente, vai dizer
que o governo “não cumpriu”, conclui o senador.
Lógico, não é mesmo? Se não se espera qualquer resultado, superávit ou
déficit, qualquer um serve. O senador disse que teve essa ideia porque é
economista.
Ah! Bom!
E quer saber? Talvez seja até menos absurda que a proposta enviada pela
presidente Dilma ao Congresso. Diz que a meta de superávit continua
sendo de R$ 100 bilhões, em números redondos. Mas o governo pode abater
dessa meta tudo que gastou com investimentos e desoneração de impostos.
Dá uns R$ 150 bilhões. Ou seja, mesmo que faça um déficit de R$ 50
bilhões, o governo cumpre o... superávit.
Quem será o economista dessa coisa?
FONTE ROTA2014
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