José Fucs - Epoca
Para o jornalista Merval Pereira, a demanda nada tem a ver com as posições de uma minoria extremista, que defende uma intervenção militar no país
Em sua coluna em O Globo, com o título Sem golpismos,
o jornalista Merval Pereira defende a ideia de que os protestos
realizados em diversas cidades do país nas últimas semanas, em defesa do
impeachment da presidente Dilma Rousseff, não podem ser considerados
como um “golpe”. “As manifestações a favor do impeachment (...), sejam
nas ruas, sejam de políticos oposicionistas ou de meios de comunicação,
podem ser precipitadas, inconvenientes politicamente, mas nunca
golpistas, como defensores do governo as rotulam na expectativa de
reduzir o seu ímpeto”, diz Merval. “(Isso) não tem nada a ver com
pedidos de intervenção militar, esses sim vindos de uma minoria
golpista.”
Segundo Merval, a defesa do impeachment se justifica por, ao menos, três
razões: 1) a campanha de Dilma em 2010, de acordo com informações dadas
pelo doleiro Alberto Yousseff, foi financiada por dinheiro do Petrolão;
2) a prestação de contas da campanha deste ano ainda está por ser
aprovada e deverá ser analisada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
pelo ministro Gilmar Mendes; 3) o crime de responsabilidade no qual ela
teria por não ter impedido o uso da Petrobras para financiamentos de sua
base política, ou por ter compactuado com esse esquema, durante o
período em que esteve à frente do ministério de Energia.
Merval lembra que o próprio Lula afirmou que não há golpismo em usar a
Constituição para destituir um presidente da República. Num vídeo que se
espalhou pela internet, Lula defende essa tese após o impeachment de
Collor, liderado na ocasião pelo PT. “Foi uma coisa importante o povo
brasileiro, pela primeira vez na América Latina, dar a demonstração de
que é possível o mesmo povo que elege um político destituir esse
político. Eu peço a Deus que nunca mais o povo brasileiro esqueça essa
lição”, afirma Lula no vídeo. (veja o vídeo abaixo)
No final de semana, durante reunião do G-20 na Austrália, a própria
Dilma disse em entrevista não ter “nada contra, nem a favor” das
manifestações em defesa do impeachment. "O Brasil tem espaço para a
manifestação que for, mesmo uma que signifique a volta do golpe, porque
somos hoje de fato um país democrático", afirmou Dilma. "Reconhecer isso
é entender que faz parte da nossa história sermos capazes de tolerar
inclusive as manifestações mais extremadas. Um país democrático absorve e
processa até propostas mais intolerantes. O Brasil tem essa capacidade
de absorver e processar."
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