por Natuza Nery
Apesar dos tempos difíceis, Dilma Rousseff mantém o hábito de não ouvir
ninguém. Vez ou outra, até faz alguma concessão a um seleto grupo.
E olha que são pouquíssimos os aliados dispostos a "dar a real" à
presidente. A maioria abre mão da sinceridade ou por medo ou por fadiga
mesmo.
Se tivesse de escolher um, o ex-presidente Lula se enquadraria mais no
segundo grupo. Há meses ele sugeriu a saída de Graça Foster da Petrobras
(ainda que os desvios descobertos agora tenham se dado sobretudo
durante seus dois mandatos).
Depois, propôs um gabinete de crise nos moldes do montado na época do escândalo do mensalão.
Graça já foi vista se queixando de passar dias sem conseguir falar com a chefe.
Há mais de dois meses, ela perambula sozinha no noticiário tomando pedrada de todos os lados. Virou Geni.
A presidente, até agora, se recusou a aceitar sua demissão. Talvez para
proteger a biografia da amiga, talvez para preservar a imagem dela
própria. Até porque, se Graça Foster cai, quem vira Geni é Dilma. E ela
sabe disso.
O plano original era esperar a poeira baixar para trocar a diretoria. Mas a nuvem de pó não para de subir.
Na terça-feira (27), enquanto a primeira reunião ministerial rodava sob
promessas de ajuste fiscal e manutenção dos ganhos sociais, Dilma
levantou-se de sua cadeira e deixou a audiência para resolver "uma
emergência".
A ausência tomou de curiosidade os presentes. Duas versões circularam na
ocasião. A primeira era a de que se tratava de assinatura de decretos; a
segunda dizia que um governador desesperado por dinheiro esperava ao
telefone para resolver seu problema de caixa.
Nem uma coisa, nem outra. Quem tirava a presidente da agenda mais importante do dia era Graça Foster.
A conversa foi tensa. Dilma foi vista gesticulando muito ao lado do
ministro Joaquim Levy (Fazenda). Naquele momento, acabava de ser
informada sobre a decisão do conselho de administração da estatal de
divulgar ao mercado uma perda de R$ 88,6 bilhões nos ativos da empresa,
fruto não só da corrupção, mas também da ineficiência de projetos e
oscilações do dólar e do preço do petróleo.
O governo foi contra. Considerou a soma "irreal, superestimada e de
metodologia obscura". O mercado também não gostou, mas por razão
diferente. Queria ver a cifra incluída no balanço. Resultado: as ações
da petroleira afundaram. No final das contas, ninguém ficou feliz. Ao
seu modo, Dilma voltou à reunião ministerial dando sinais de como o caso
Petrobras já consumiu muito da sua rara paciência. Dirigindo-se a Levy,
soltou um irônico "permita-me rir".
fonte rota2014
0 comments:
Postar um comentário