RICARDO NOBLAT
Que alma corajosa se
oferece para aconselhar a presidente Dilma a renovar seu vocabulário,
começando por descartar lugares comuns do tipo "Não ficará pedra sobre
pedra" e "Doa em quem doer"? Lugares comuns arranham os ouvidos. E com
frequência se voltam contra os que gostam de usá-los. Um exemplo? "Não
ficará pedra sobre pedra" da política externa brasileira depois da
passagem de Dilma pelo poder.
FORCEI A BARRA? Tentarei ser mais
justo: não ficará pedra sobre pedra da política externa brasileira
depois da passagem de Lula e Dilma pelo poder. Este gigante econômico e
cultural, chamado de "anão diplomático" em julho do ano passado pelo
portavoz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, sempre contou
com uma das diplomacias mais respeitadas e bem-sucedidas do mundo.
HÁ
FARTO conhecimento adquirido com aplicação e afinco. Relativa grandeza.
E coerência política secular. Tamanho patrimônio, infelizmente,
repousa, hoje, quase esquecido nos subterrâneos do Itamaraty. O retrato
de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, patrono
da diplomacia brasileira, ainda enfeita paredes de gabinetes
acarpetados. Mas como dói observá-lo.
NA SEMANA passada, com
muitos quilos a menos, mas sem ter perdido um grama de arrogância, Dilma
emergiu do carnaval disposta a ocupar por todos os meios o espaço que a
mídia costuma lhe oferecer com generosidade. E assim foi. Sem pejo,
remeteu ao governo Fernando Henrique Cardoso a origem da roubalheira na
Petrobras, que só se tornou sistêmica a partir de 2003.
E COMO
SE não bastasse tal agressão à verdade, resolveu brigar com um país
situado do outro lado do mundo - a República da Indonésia, um
arquipélago com mais de 17 mil ilhas. No momento, a Indonésia deveria
ser o último país com quem o Brasil almejasse arranjar briga. Ali, em 17
de janeiro último, o brasileiro Marcos Archer, um traficante de drogas,
foi executado a tiros.
ARCHER HAVIA sido preso há 10 anos,
julgado e condenado à morte. A legislação da Indonésia contra a droga é
uma mais rígidas do mundo. Dilma empenhou-se em salvar a vida de Archer.
Reagiu à sua morte chamando de volta o embaixador do Brasil por lá. Era
tudo o que não deveria ter feito - afinal, há outro brasileiro na
Indonésia condenado à morte por tráfico de droga.
SE HAVIA uma
tênue esperança de que à diplomacia fosse possível evitar um segundo
fuzilamento, ela se dissipou com outra decisão desastrosa tomada por
Dilma na última sexta-feira. Novos embaixadores de outros países estavam
reunidos no Palácio do Planalto para apresentar suas credenciais a
Dilma. Por ordem, o primeiro deles seria o embaixador da Indonésia.
UMA
VEZ cumprido o rito, o embaixador desceria a rampa do palácio, entraria
no seu carro e iria embora. Não foi o que aconteceu. O ministro das
Relações Exteriores do Brasil chamou o embaixador para uma conversa a
sós. Comunicou que Dilma não receberia mais suas credenciais. O
embaixador saiu humilhado pelos fundos. A Indonésia é quem foi humilhada
na figura dele. E para quê?
SACA O ESTADO Islâmico - aqueles
loucos que degolam e incineram pessoas? Dilma já recomendou que se
dialogasse com eles. A Venezuela deixou de ser uma democracia. Mas Dilma
faz de conta que ali ainda existe uma. Os interesses superiores do país
deixaram de orientar nossa política externa. Cederam a vez à ideologia
pessoal do governante da ocasião. Pobre barão do Rio Branco. Pobres de
nós.
fonte avarandablogspot
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