Deu no Jornal do Brasil
“Mas pela primeira vez os analistas começam a se preocupar com a possibilidade de que o Brasil entre, por motivos políticos e para reagir à corrupção e à crise econômica e de desencanto com a política, num círculo de confronto popular que pode deixá-lo mais parecido com a Argentina ou com a Venezuela do que com sua própria história”, alerta o jornalista.
IMPEACHMENT E GUERRA CIVIL
Ele prossegue: “No Brasil começam a ressoar dois gritos preocupantes: o de impeachment da presidenta Dilma, recém-eleita nas urnas, e o de uma possível guerra civil, não sangrenta, mas de consequências difíceis de medir, em que os cidadãos poderiam acabar se enfrentando nas ruas, pela primeira vez não unidos em defesa de uma causa comum, mas com ruídos de ‘guerra’.
Já foi explicado pelos especialistas em direito que o pedido de impeachment não é nenhum golpe contra a democracia, já que está previsto na Constituição e pode ser solicitado por qualquer cidadão que acredite que haja motivos para isso”, lembra Arias, acrescentando que o impeachment precisa ter dois terços dos votos na Câmara e no Senado”.
“Difícil saber o eco popular que poderão ter as manifestações convocadas em caráter nacional para 15 de março, para pedir a saída da presidenta”, diz Arias, acrescentando: “Tal pedido, inclusive bradado nas ruas pelos brasileiros descontentes com o governo, como um dia fez o PT ao pedir, na oposição, a saída do então presidente Fernando Henrique Cardoso, não deveria ser motivo de preocupação em termos democráticos”.
“O que hoje começa a dar medo é que algumas forças políticas, tentadas pelo demônio da perpetuação no poder a qualquer preço, em vez de buscar meios de sair da crise, possam acabar dividindo o país, como já acontece na Argentina e na Venezuela, com impulsos, como naqueles países, de amordaçar a informação livre.
MOVIMENTOS SOCIAIS
Nada pior neste momento, por exemplo, que uma parte do partido do governo querer empurrar as ruas usando seus sindicatos e movimento sociais contra as medidas de austeridades defendidas por seu próprio governo para tirar o país da crise”, escreve o jornalista.
“A reação do governo frente a um pedido de impeachment da presidenta Rousseff deve ser apresentar fatos que mostrem que não há motivo para isso. Tudo, é claro, à luz do sol, aceitando os resultados das legítimas investigações, sem tentar domesticá-las nem manipulá-las.
A força do Brasil, invejada em vários continentes pelos países que sofrem com a tentação de rasgos nacionalistas ou ideológicos, sempre foi sua unidade nacional, apesar de suas imensas diferenças geográficas e culturais”, diz Juan Arias.
“A verdadeira democracia exige que até aos mais necessitados e indefesos seja dada a liberdade de escolher como e por quem querem ser defendidos, porque a História ensina o quão perigosa é a força desses excluídos quando descobrem que estão sendo enganados ou manipulados pelos malabarismos do poder”, conclui Arias, para o jornal El País.
(Matéria enviada por Paulo Peres)
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