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09:53
ANDRADEJRJOR
MÍRIAM LEITÃO O GLOBO
Brasil aceita a
violência do governo venezuelano. A presidente Dilma disse uma frase perfeita. Como ato falho. "Nós nunca deixamos de
esconder que era 4,5%". Falava da correção da tabela do Imposto de
Renda. E esse percentual esconde - ou nunca deixou de esconder, como a
presidente prefere dizer - um aumento de imposto, porque é abaixo da
inflação do ano, que foi de 6,4%. Em janeiro, já pulou para 7,14% em 12
meses.
Essa atualização da tabela abaixo da inflação não é fato
raro. Os governos sempre esconderam esse tipo de aumento de imposto e
até apresentavam como ganho do trabalhador. No caso da atual presidente,
o que agrava o problema é que a inflação esteve sempre, nos seus quatro
anos de mandato, longe do centro da meta. Ela "nunca deixou de
esconder" que a meta não seria atingida. Dizia que estava convergindo
para a meta, mas, no fundo, bastava que não fechasse o ano acima de
6,5%.
Na entrevista, quando uma jornalista perguntou se ela
falaria com o embaixador da Venezuela sobre o caso da prisão do prefeito
de Caracas, Dilma respondeu: "Não querida. Eu não posso receber um
embaixador baseado nas questões internas do país. Eu recebo os
embaixadores baseado nas relações que eles estabelecem com o Brasil." O
governo "nunca deixou de esconder" que, na verdade, tudo depende do
país. Se for o Paraguai, o que acontece lá dentro importa ao Brasil,
mesmo que nada tenha a ver com as relações bilaterais. Se um presidente é
derrubado, como aconteceu com Fernando Lugo, é um fato reprovável. E
realmente é. A Constituição do país permitia, o Brasil reagiu
ferozmente. Paraguai ficou fora das decisões do Mercosul. Foi duramente
admoestado.
Diferente é a situação da Venezuela. Lá, tudo pode. O
falecido presidente Hugo Chávez fez o que quis com as instituições
democráticas: fechou jornais, perseguiu opositores, manipulou eleições.
Seu sucessor segue na mesma linha. Outro opositor, Leopoldo Lopez, está
preso há um ano e lá permanece. Recentemente, sua mulher denunciou que
ele foi colocado em solitária. Na quinta-feira, uma polícia fardada e
encapuzada invadiu o prédio onde estava o prefeito eleito de Caracas,
Antonio Ledezma, e o levou preso. O presidente Nicolás Maduro, a exemplo
do seu mentor, fez um pronunciamento, cercado de simpatizantes, dizendo
que ele será julgado por conspirar contra a Constituição.
Qualquer
liderança oposicionista que se fortalece é simplesmente presa, sem
ordem judicial, em manobras indisfarçáveis para se manter no poder a
qualquer preço. Quando o governo brasileiro reconhecerá que a cláusula
democrática do Mercosul, invocada no caso de Lugo, tem que valer para os
abusos dos governos chavistas? A resposta deveria ter sido: "Sim
querida, estamos chamando o embaixador para pedir explicações sobre a
prisão de um opositor, o prefeito de Caracas." Mas não foi essa a
resposta da presidente. Ela prefere continuar escondendo - como nunca
deixou de fazer - que para os amigos as normas do Mercosul são
flexíveis. Deles, tudo é aceitável.
O governo de Maduro não sabe o
que faz. Mergulhou o país em grave crise econômica e social. A inflação
a 70%, o país desabastecido, o câmbio enlouquecido. Se o país já estava
na penúria com o petróleo a US$ 100, o que dirá agora, que despencou?
Tudo isso a presidente poderia dizer que é assunto interno. Mas a quebra
de regras democráticas, a prisão de opositores de forma arbitrária e
abusiva por um tal "Serviço Bolivariano de Inteligência" são uma ofensa
ao tratado do Mercosul que estabeleceu que os governos têm que respeitar
o Estado de Direito, a democracia.
Essa cláusula não é um mero
enfeite do acordo que uniu os países. Teve que ser parte da base, porque
a região sempre foi atingida por ondas autoritárias, ditaduras,
caudilhismos. O Mercosul foi assinado por governos que saíram das
ditaduras que arruinaram os anos 60, 70 e parte dos 80. Foi um abraço de
países, marcados por esse flagelo, que se comprometiam a ser um clube
de democracias. Não é possível esconder: a aceitação de que Maduro faça,
como fazia Chávez, o que lhe der na telha com as instituições é a
quebra desse princípio. O governo petista sempre mostrou que não se
importa com isso, se a violação partir de um governo amigo
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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