Alberto Goldman FOLHA DE SÃO PAULO
Estamos iniciando um longo e dramático período político em nosso país.
Longo, porque o mandato presidencial é de quatro anos. Dramático, porque
Dilma Rousseff e seu partido não têm condições políticas e morais para
conduzir o país por mais muito tempo.
Para não se apresentar confessando o estelionato eleitoral, Dilma
entregou à nova equipe econômica a missão de implantar medidas de
sacrifício da população –que durante a campanha eleitoral dizia que a
oposição imporia à nação–, na busca desesperada de superar a estagnação
produzida por sua política desastrosa.
Sem autocrítica, pelo contrário, em uma atitude covarde, procura
arrastar o PSDB para o mar de lama em que está metida, ao afirmar que,
se antes tivesse o governo FHC investigado e punido, não teríamos o que
temos agora.
Esconde a sua responsabilidade na articulação de diretores da Petrobras e
de seus fornecedores com os partidos de sua base, que objetivou o saque
de recursos públicos para suas campanhas (e o enriquecimento de muitos)
–o que, agora, emerge de maneira avassaladora.
É isso que destrói toda e qualquer condição moral de condução do país por parte da presidente Dilma Rousseff e seu ministério.
Dilma tratou de montar um ministério com figuras que representam
agrupamentos partidários ou grupos de interesse que possam lhe dar o
respaldo necessário no Congresso Nacional, para evitar um possível
pedido de seu afastamento definitivo do cargo, nos termos da
Constituição em vigor, uma sobrevida difícil de obter.
O governo petista está moribundo, e o partido continuará existindo como
uma pálida imagem do que já foi no passado, quando, moralmente
inatacável, pretendia ser o condutor de uma transformação profunda na
sociedade brasileira.
No governo, liderado pelo seu grande chefe, Luiz Inácio Lula da Silva, o
PT se corrompeu ao buscar, a qualquer preço, a manutenção do poder. O
projeto de uma nova sociedade se frustrou, transformando-se em projetos
de subsistência de milhões de brasileiros que vivem na pobreza, mantidos
nessas condições para garantir o controle dos seus votos. Não passa
disso.
Os resultados eleitorais foram colhidos, mas isso não garante ser
possível conduzir o país, fazendo as transformações necessárias para que
ele possa avançar econômica, social e politicamente.
Pelo contrário, a forma como esses resultados foram obtidos impõe à
presidente e ao seu partido a necessidade de se legitimar perante a
maioria do Brasil produtivo, que não vive na dependência do Estado.
Tarefa impossível.
O quadro atual é dramático também para a oposição e para os milhões de
brasileiros que não veem no governo atual condições para vencer a crise.
Como levar adiante uma transição nos limites da democracia
constitucional em que vivemos, rejeitando firmemente qualquer solução
que não seja legal, sem ter de aguardar quatro anos para que o país
possa abraçar um caminho que abra novas perspectivas de desenvolvimento e
de melhoria das condições de vida de nosso povo? Esse é o desafio que
está colocado para nós.
Sobra o caminho legal do impedimento, que só acontecerá se o agravamento
das condições econômicas e políticas persistirem a ponto de mobilizar o
povo e os partidos para uma solução que, de qualquer forma, ainda que
legal e democrática, não deixa de ser traumática.
Mas o próprio Lula já declarou, após a queda de Collor, que o povo
brasileiro mostrou que o mesmo povo que elegeu um presidente pode
tirá-lo. E pode, legalmente!
FONTE ROTA2014
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