por Clovis Rossi FOLHA DE SÃO PAULO
A Anistia Internacional fez, a respeito da prisão do prefeito
metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, o que a diplomacia brasileira
deveria fazer mas não faz: emitiu comunicado em que diz que "é
inaceitável que se detenham indivíduos sem evidência aceitável de que
tenham cometido algum delito".
Mais: "No último ano foram detidas arbitrariamente pessoas pelo simples
fato de serem opositoras ou terem visão crítica do governo".
A propósito, a mulher de Leopoldo López, um desses prisioneiros, está
avisando que a próxima a ir para a cadeia é a deputada Maria Corina
Machado, arbitrariamente cassada.
Por que a diplomacia brasileira, claramente surpreendida pelo caso Ledezma, fica quieta?
A explicação oficiosa é a de que vocalizar críticas como a da Anistia
significaria deixar o Brasil completamente descolocado para qualquer
tentativa de mediação.
O argumento até faria sentido se a própria Venezuela não estivesse constantemente humilhando a diplomacia brasileira.
Há duas semanas, o Itamaraty festejava o fato de que uma reunião de
chanceleres (do Brasil, do Equador e da própria Venezuela) havia
recolocado a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) no papel de
interlocutora.
Há um ano, a mediação da Unasul, de resto solicitada pela Venezuela, foi
instrumental para fazer cessar os protestos de rua, que deixaram 43
mortos.
Acontece que o pressuposto essencial da mediação era servir de ponte para o diálogo entre o governo venezuelano e a oposição.
O caso Ledezma, assim como prisões anteriores, evidencia que, em vez de
diálogo, o governo venezuelano prefere uma inaceitável truculência.
Ainda assim, o Brasil se presta a legitimar esse tipo de violência, ao
aceitar participar de nova missão da Unasul, na semana que vem em
Caracas, segundo anunciado por Ernesto Samper, o secretário-geral da
Unasul.
Esse tipo de encontro só tem sentido se for para deixar claro que o
governo Nicolás Maduro ultrapassou todos os limites e precisa respeitar
regras mínimas (que respeite todas as regras democráticas seria pedir
demais, a esta altura).
O Brasil deveria deixar claro também que essa história de inventar um
golpe em marcha, dia sim, outro também, já não engana mais ninguém e não
tapa os problemas que a incompetência do governo de Maduro deixou se
amontoarem.
É claro que não dá para dizer tal coisa publicamente, mas a portas
fechadas ou o Brasil se mostra à altura do jogo democrático ou acabará
desmoralizado.
FONTE ROTA2014
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