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08:18
ANDRADEJRJOR
MERVAL PEREIRA O GLOBO
A polêmica aberta pelas
audiências que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, concedeu a
advogados de UTC, Odebrecht e Camargo Corrêa só ocorreu porque elas
foram realizadas fora da agenda e descobertas por jornalistas. A
explicação oficial para a falta de registro dos encontros só fez crescer
as suspeitas: atribuiu-se a uma "falha técnica" a ausência de registro,
justamente nos dias em que ocorreram.
O encontro com Sérgio
Renault, que já trabalhou com o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos e hoje
está num escritório que defende o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, é
mais intrigante ainda. Cardozo disse que o encontrou de surpresa em sua
antessala, quando levou à porta o advogado Sigmaringa Seixas, que já foi
deputado federal pelo PT e é o homem de confiança de Lula para
indicações ao STF.
Os dois advogados almoçariam juntos e
combinaram de se encontrar no gabinete do ministro. Não chega a ser
normal marcar encontro na antessala de um ministro, a não ser que se
queira aproveitar uma brecha para se chegar a ele. É o que parece que
aconteceu.
Todos esses bastidores formam um conjunto suspeito de
coincidências que não favorecem Cardozo, mesmo que ele afirme, com
razão, que é seu dever receber advogados. Em condições normais, é claro
que é. Mas nessas condições especiais, e num momento em que o processo
contra as empreiteiras está sendo investigado por Ministério Público e
Polícia Federal, quanto mais distante estiver das investigações o
ministro da Justiça, melhor para as instituições democráticas.
Tem
razão o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa ao dizer que advogados que
queiram se queixar de desvios no processo do petrolão deveriam procurar
o juiz responsável pelo caso, e não o ministro da Justiça, que é uma
figura de representação política.
Nesse caso, o ministro Teori
Zavascki, relator do processo no STF, seria o indicado para receber
essas queixas. Zavascki já tirou da prisão o ex-diretor da Petrobras
Renato Duque, com apoio posterior de seus colegas. Ou então o próprio
juiz Sérgio Moro, que ontem classificou de "inaceitável" a tentativa de
interferência política no caso. O juiz classificou o episódio de
"indevida, embora malsucedida, tentativa dos acusados e das empreiteiras
de obter interferência política"
Há indicações de que cresce no
STF o desconforto dos ministros com a duração da prisão dos acusados;
não será surpresa se nos próximos dias outras decisões os tirarem da
cadeia.
Há também informações de que a CGU está ultimando acordo
de leniência com as empreiteiras, avalizado pelo TCU, para que paguem
multa milionária e não sejam consideradas impedidas de participar de
obras governamentais.
Alega-se não ser possível parar o país com a
declaração de inidoneidade das empreiteiras. Esse mesmo tipo de acordo
foi tentado pelas empreiteiras junto a Moro, que comanda o processo em
Curitiba, e ao MPF, mas não se chegou a acordo pois as empreiteiras
queriam pagar multa menor do que a definida por Moro, e também que seus
dirigentes fossem soltos sem responder a acusações.
Esses
encontros do ministro, em momento político delicado, não servem à
democracia, muito menos quando se prestam a versões nada republicanas.
Segundo a revista "Veja" Cardozo teria orientado os advogados a não
permitir que o presidente da UTC fizesse o acordo de delação premiada
com o MP, pois os rumos das investigações tomariam novo rumo após o
carnaval. Não vi nenhum desmentido do ministro quanto a esse ponto
crucial.
Ele desmente genericamente que tenha conversado com o
advogado ligado à UTC sobre a Lava-Jato, também outra estranheza dessa
história toda. E admite que os da Odebrecht encaminharam documento com
reclamações sobre o processo, mas diz que tem de manter em sigilo o
teor, o que também não faz sentido.
O conjunto da obra leva a uma
tentativa de melar a Lava-Jato, o que seria gravíssimo recuo
institucional. Creio, porém, que o processo já chegou a um ponto em que é
difícil recuo tão grande; nos próximos dias, o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, apresentará sua denúncia ao STF, com os nomes
dos envolvidos com foro privilegiado, políticos com mandatos.
Certamente
a sociedade, que já está informada de partes importantes da
investigação, não aceitará que ela seja desmontada por manobras de
bastidores. Se isso acontecer, só reforçará no cidadão a sensação de que
há figuras políticas mais altas tentando embaralhar as investigações. E
provocará reações.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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