editorial do Estadão
O segundo mandato da presidente Dilma Rousseff mal começou e os dois
maiores partidos que a apoiam, PT e PMDB, já estão tratando da sua
sucessão em 2018. Falam abertamente nas candidaturas do ex-presidente
petista Luiz Inácio Lula da Silva e de Eduardo Paes, atual prefeito
peemedebista do Rio de Janeiro. É mais um indício robusto de que os
principais apoiadores de Dilma Rousseff, preocupados com a possibilidade
de que nos próximos três anos piore ainda mais o baixo índice de
avaliação do atual governo, não querem perder tempo e cuidam de prevenir
o quanto antes a contaminação eleitoral pelo desastrado desempenho da
presidente da República.
É claro que as candidaturas de Lula e de Paes são, por enquanto,
especulações provocadas pela necessidade de agir diante de um cenário
político turbulento e ameaçador para os dois maiores partidos que, pelo
menos formalmente, dão sustentação política ao governo. Além disso, as
condições do instável momento político que o País atravessa tornam o
futuro mais imprevisível do que nunca, além de a história e os projetos
políticos de PT e PMDB revelarem diferenças importantes que certamente
condicionarão o posicionamento tanto de um quanto de outro nesse
cenário.
A posição do PT, por ser o partido da presidente da República, é
certamente a mais complexa e difícil. Desde que assumiu o segundo
mandato, Dilma, num assomo de independência do qual poderá vir a se
arrepender, afastou a corrente majoritária do PT do círculo mais íntimo
do poder. Assim, o partido que a elegeu e reelegeu nem sempre sabe
exatamente como se posicionar no confronto situação-oposição. Prova
disso é que são os próprios petistas no Congresso que ameaçam tornar
inócuas as medidas de ajuste fiscal propostas pela equipe econômica do
governo.
Mas o PT, queira ou não, é o partido de Dilma, e a única possibilidade
que tem à vista, para não encerrar em 2018 ou mesmo antes seu desfrute
das benesses do poder, é apostar na capacidade de Lula manter levantada
sua bandeira. O próprio Lula sabe que as contradições do relacionamento
da presidente com o PT são muito difíceis de serem sanadas e que isso só
pode prejudicar, mesmo na perspectiva de quatro anos, a possibilidade
de o governo corrigir os muitos erros políticos e administrativos até
agora cometidos. Portanto, o ex-presidente, cujo projeto de poder sempre
foi a razão maior de sua bem-sucedida trajetória populista, sabe que o
futuro do PT continua em suas mãos. Por essa razão, é desde já candidato
autodeclarado a presidente em 2018.
Já o PMDB, apesar de formalmente aliado do governo, no qual tem o
vice-presidente da República e cinco ministros, está numa posição
política muito mais confortável. Depois de perder feio as duas primeiras
eleições presidenciais após a redemocratização do País, em 1989, com
Ulysses Guimarães, e em 1994, com Orestes Quércia, o PMDB chegou à
conclusão de que era mais conveniente investir o peso de sua forte base
parlamentar no compartilhamento do poder, como aliado.
Na primeira tentativa, em 2002, não se deu bem, tendo Rita Camata como
vice de José Serra. Mas desde 2006, quando apoiou oficialmente a
reeleição de Lula, o PMDB está no poder. E não terá o menor
constrangimento de continuar assim enquanto não dispuser de um candidato
competitivo para disputar a Presidência. Até porque continua dominando o
Parlamento, onde tem os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da
Câmara, Eduardo Cunha. E esse domínio é mais amplo do que nunca, uma vez
que a presidente Dilma Rousseff, ao tentar evitar a eleição de seu
desafeto Eduardo Cunha, acabou provocando o alijamento do PT da Mesa da
Câmara e das principais comissões da Casa.
Mas não custa nada ao PMDB lançar um balão de ensaio para 2018. E faz
sentido que o nome escolhido venha do Estado de origem do presidente da
Câmara dos Deputados, onde o partido tem o governador e o prefeito da
capital. Foi o que levou Pezão a lançar o nome de Paes. Dadas as razões
dos dois partidos - PT e PMDB - e o lançamento, a que título for, dos
dois candidatos, resta saber se o mandato de fato de Dilma Rousseff não
terminou pouco depois de ter começado. Pois ela não parece ter
competência política para corrigir os imensos erros de seu primeiro
mandato e, ao mesmo tempo, administrar as ambições que se soltam à sua
volta.
fonte rota2014
0 comments:
Postar um comentário