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15:39
ANDRADEJRJOR
ANDRÉ GUSTAVO STUMPF CORREIO BRAZILIENSE
O Brasil tem
instituições centenárias que funcionam com regularidade ao longo da
história do país. Uma delas é o Ministério de Relações Exteriores,
chamado de Itamaraty, que possui um corpo de funcionários selecionados
em concurso duríssimo e que, durante a carreira, são obrigados a estudar
e a prestar exames internos para alcançar os postos mais elevados, cujo
ápice é o de embaixador. Outras instituições centenárias são o
Exército, a Igreja Católica e o sistema de coleta de impostos.
Essas
instituições têm em comum o fato de auxiliar, cada uma na sua medida, a
construção do país como ele é hoje. Os pontos em comum que existiam,
por exemplo, entre o Norte e o Sul do Brasil, na época da Independência,
eram, além do idioma, a presença de militares, de padres e do coletor
de impostos. Todos contribuíram para união nacional. A diplomacia
providenciou a anexação do Acre, de parte da Guiana Francesa, que hoje é
o Amapá, e uma fatia do Paraguai, hoje integrada ao Mato Grosso.
O
Brasil é o único país do continente que não apenas manteve a dimensão
anterior ao tempo da colônia, como aumentou a área. A maioria dos países
vizinhos perdeu parte do território. A Colômbia, por exemplo, perdeu o
Panamá para os norte-americanos, que queriam construir o canal. A
Argentina, que integrava o vice-reinado do Prata, foi desmembrada. Peru e
Chile até hoje se acusam, juntamente com a Bolívia, pela guerra do
Pacífico. Arica era uma cidade peruana. E Antofagasta pertencia a
Bolívia. Hoje, as duas são do Chile.
A questão é que a diplomacia
brasileira já foi exemplo para diversos países. Até hoje, jovens
diplomatas estrangeiros vêm a Brasília frequentar os cursos
especializados proporcionados pela Casa de Rio Branco. Ocorre que a
presidente Dilma Rousseff não gosta da diplomacia, não aprecia o debate e
despreza a política de longo prazo. Colocou o Itamaraty numa geladeira
feroz. Pratica uma política meio bolivariana, sem aparente sentido
prático, que atrela o país aos interesses da Argentina e na posição de
socorrer a Venezuela.
O Brasil sumiu dos fóruns internacionais.
Deixou de ser relevante. A aproximação entre Estados Unidos e Cuba, que
seria assunto de interesse nacional, chegou aqui como notícia de jornal.
Os dois protagonistas recorreram ao auxílio da diplomacia canadense e
do Vaticano para colocar os primeiros pontos que permitiram a divulgação
da perspectiva de acordo e reconhecimento de relações estáveis. Essa é a
notícia mais importante para as Américas. Espécie de queda do muro de
Berlim tropical.
Mas o protagonismo do Brasil foi inexistente
nesse caso. O país possui apenas um acordo bilateral, com Israel. O
Chile tem 21.O Peru tem 16. O México, 13 e a Colômbia, 12. Esses acordos
concedem segurança aos investidores, exportadores e importadores. A
China tem 130, Rússia 73 e Índia 84. Por decisão do Palácio do Planalto,
a diplomacia esperou em vão pelo sucesso da rodada de Doha, que não
aconteceu. E negocia ao lado da Argentina, acordo com a União Europeia.
Não funciona.
O comércio exterior brasileiro, que já foi um
luminoso sinal de prosperidade - chegou a um saldo positivo de US$ 46
bilhões -, agora, produz deficits. E os nossos vizinhos argentinos
assinaram acordo de preferência com os chineses que rapidamente ocuparam
o mercado do país e empurraram os produtos nacionais para fora das
prateleiras. O voluntarismo não funciona na política interna nem na
política externa.
O país não tem presença forte nem a sua região.
Os países da área do Pacífico, Colômbia, Chile, Peru e México se
acertaram com os tigres asiáticos e seus vizinhos. Abriu-se nova rota de
comércio. Os diplomatas olham para isso com certa melancolia. Foram
relegados a segundo plano. Embaixadas e consulados brasileiros estão
sendo acionados porque não pagam as dívidas. Em Nova York, perderam as
vagas de garagem por falta de pagamento.
Além de questão prática -
falta de dinheiro -, inexiste a vontade política de exercer algum
protagonismo na política internacional. Representantes brasileiros
deixaram de frequentar as negociações e os seminários mais importantes. O
país diminuiu de tamanho e deixou de ter acesso a informações
importantes para orientar o desenvolvimento. No caso, não basta ter bom
ministro de Relações Exteriores. É preciso rever objetivos, traçar metas
e retomar o antigo protagonismo. No caso, está em vigor a velha máxima
de Nelson Rodrigues: "Subdesenvolvimento não se improvisa".
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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