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21:34
ANDRADEJRJOR
DEMÉTRIO MAGNOLI FOLHA DE SÃO PAULO
Os parlamentares trairão seus eleitores se oferecerem um cheque em branco para Dilma, aprovando o pacote
Na
campanha eleitoral, Dilma Rousseff garantiu que não daria um "cavalo de
pau" em sua desastrosa política econômica. Logo depois, convocou
Joaquim Levy para promover um severo ajuste fiscal. Na campanha, acusou
Aécio Neves e Marina Silva de cercarem-se de "banqueiros" para conspirar
contra as "conquistas do povo". Agora, como parte do ajuste concebido
por seu "banqueiro", dirige ao Congresso um pacote de cortes de
benefícios trabalhistas e previdenciários. Num editorial (15/2), a Folha
pede que, em nome da credibilidade das finanças nacionais, o Congresso
aprove o arrocho. A mensagem subjacente é que a política pode ser o
reino da irresponsabilidade, com a condição de que a economia seja o da
responsabilidade. Ou, em outra versão, que a função patriótica dos
parlamentares é arcar com os custos do estelionato eleitoral praticado
pela presidente.
Em nota oficial, o PT condenou os cortes
almejados pelo governo. Em princípio, isso significa que o Congresso é
chamado a convalidar o pacote contra os votos do principal partido
governista. Há algo de divertido nessa ideia, que forma o núcleo oculto
do editorial. O PMDB e os demais partidos da base, junto com o PSDB e os
outros partidos de oposição, exerceriam o "patriotismo" de aprovar
medidas impopulares, enquanto o PT seria oportunamente "derrotado", mas
permaneceria na trincheira da defesa do "povo". Há um modo melhor de
virar a democracia pelo avesso?
Dilma jamais admitiu a falência
da política econômica de seu primeiro mandato. No discurso da segunda
posse, cantou as delícias do país de suas fantasias, lançou a culpa pela
recessão no cordeiro sacrificial da crise externa e reiterou as
acusações contra a malvada oposição "neoliberal". Seus auxiliares
esclareceram que Levy é um desvio de rota circunstancial, um curativo na
ferida exposta, não o sinal de uma mudança de rumo. O BNDES prepara um
socorro de US$ 3,5 bi à Sete Brasil. A Petrobras continua sob a direção
de um "companheiro". Por qual motivo os parlamentares devem se associar à
política da negação, que articula uma austeridade sem reformas de
fundo?
Ontem, o governo dizia que os benefícios trabalhistas e
previdenciários representavam um patrimônio intocável de conquistas
sagradas do povo. Hoje, argumenta que o pacote de cortes destina-se a
corrigir desvios, evitando fraudes. Ficamos sabendo, portanto, que os
governos lulopetistas iludiram o país durante 12 anos, que a gerente
implacável conviveu pacificamente com os abusos ao longo de todo o seu
mandato --e que os patriotas do Planalto descobriram, repentinamente, as
malversações de dinheiro público bem na hora do inadiável aperto das
contas! Por que os parlamentares têm o dever de colocar suas assinaturas
no pé da página desse discurso farsesco?
Não estamos em guerra
ou sob o impacto de alguma catástrofe natural. O Brasil ainda se
encontra longe do abismo da inadimplência que ronda a Argentina e a
Venezuela. O apelo à "salvação nacional", pilar subterrâneo do editorial
da Folha, é mais um sintoma da erosão de sentido da linguagem política
nessa era de lulopetismo. Os governantes que recorrem à mentira para
alcançar triunfos eleitorais devem pagar o preço de suas escolhas. Os
parlamentares trairão seus eleitores se oferecerem um cheque em branco
para Dilma, trocando o pacote do arrocho pelas tradicionais prebendas na
administração pública. No lugar disso, têm a oportunidade de exigir que
o governo comece a reconhecer a verdade, condição indispensável para
enfrentar a crise.
O fracasso de Dilma 1, multiplicado pelo
escândalo na Petrobras, abriu uma fresta para a entrada de uma lufada de
ar puro na câmara de nossa democracia. O nome desse ar despoluído é a
promessa de independência do Congresso. O voto sobre o corte de
benefícios será o primeiro teste real dessa promessa.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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