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06:50
ANDRADEJRJOR
EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
Um ano depois da
prisão de Leopoldo López, o ditador Nicolás Maduro coloca na cadeia
outro oposicionista, com o silêncio cúmplice dos vizinhos sul-americanos
Pouco
mais de um ano atrás, em 18 de fevereiro de 2014, o líder oposicionista
venezuelano Leopoldo López foi preso, por ordem do governo do ditador
Nicolás Maduro. Ele foi acusado de terrorismo, homicídio e incêndio de
edifícios públicos – na verdade, seu “crime” foi ter liderado os
protestos de rua contra o governo chavista. A prisão foi criticada pelas
principais organizações internacionais de direitos humanos, como a
Anistia Internacional e a Human Rights Watch, e até hoje López não foi
julgado por seus supostos delitos. Em vez de aproveitar a passagem do
primeiro aniversário daquele ato arbitrário para corrigir a injustiça,
Maduro decidiu colocar na cadeia outro opositor: o prefeito de Caracas,
Antonio Ledezma. Cerca de 15 agentes da inteligência venezuelana,
encapuzados, entraram na sede do partido de Ledezma, na capital do país,
e o levaram na quinta-feira.
Na noite do dia 19, Maduro foi à
televisão justificar a prisão. Ledezma responderá por “delitos contra a
paz”, e o ditador deu a entender que o prefeito estaria envolvido em uma
tentativa de golpe de Estado que teria sido desarticulada pelo serviço
secreto do país. O chavista Jorge Rodríguez, prefeito de uma cidade da
região metropolitana de Caracas, e o presidente do Legislativo
venezuelano, Diosdado Cabello, não tiveram dúvidas em apontar os
conspiradores: além de Ledezma, também seriam golpistas o deputado Julio
Borges, a ex-deputada Maria Corina Machado e o ex-embaixador Diego
Arria.
Na verdade, só o que existe é um manifesto publicado em 11
de fevereiro no jornal El Nacional. No “Chamado aos venezuelanos para
um acordo nacional de transição”, Ledezma, López e Maria Corina pedem,
entre muitas outras coisas, o restabelecimento das liberdades
democráticas, da independência entre os poderes e do respeito à
propriedade privada – com a reversão (quando possível) das estatizações
forçadas –, além da realização de eleições “livres e absolutamente
transparentes” e do início de um processo de reconciliação nacional. Foi
esta convocação, feita às claras, que Maduro entendeu como “conspiração
golpista” que daria suporte à ordem de prisão. Maria Corina não foi
presa, mas está impedida de sair do país há algum tempo e já foi vítima
de várias agressões de milícias bolivarianas.
As prisões
arbitrárias por motivos políticos só servem para reforçar a convicção de
que a Venezuela há muito tempo deixou de ser uma democracia para se
converter em uma ditadura em que eleições, parlamento e Justiça são
apenas elementos decorativos. Mesmo as Forças Armadas, apesar de sua
lealdade ao governo, precisam conviver com as milícias, um aparato
paralelo à estrutura formal de exercício da força.
Durante os
protestos de 2014, Ledezma enviou uma série de mensagens à presidente
Dilma Rouseff pelo Twitter. Em uma delas, o prefeito de Caracas lembrava
que Dilma havia sido perseguida pela ditadura militar, e por isso ele
esperava dela solidariedade para com os venezuelanos perseguidos
injustamente por Maduro. A resposta foi o silêncio. Coincidência ou não,
na manhã de sexta-feira, com Ledezma já preso, Dilma recebeu as
credenciais da nova embaixadora da Venezuela no Brasil (mas recusou as
do diplomata indonésio, em meio à polêmica sobre a execução de
brasileiros condenados por tráfico de drogas) e não quis comentar o
caso, alegando que o Brasil não interfere em assuntos internos de outros
países – uma meia verdade, pois o critério de interferência é a
situação dos aliados ideológicos do PT. Quando eles são as “vítimas”,
como em Honduras e no Paraguai, o governo não pensa duas vezes antes de
agir. Quando são eles que cometem injustiças, o Brasil fecha os olhos.
O
mesmo deve ocorrer no âmbito do Mercosul, que, no episódio do
impeachment de Fernando Lugo, alegou violações da cláusula democrática
do bloco para suspender o Paraguai e, com isso, abrir caminho para a
entrada da Venezuela no grupo. Já naquela época o regime de Hugo Chávez
não podia mais ser considerado democrático, o que não foi empecilho para
Dilma, Cristina Kirchner e Pepe Mujica aceitarem a Venezuela. Agora, as
violações são ainda mais claras, e mesmo assim os únicos a se
manifestarem foram ex-presidentes: Sebastian Piñera, do Chile, e os
colombianos Álvaro Uribe e Andrés Pastrana. Esta é uma situação em que a
omissão acaba se tornando cumplicidade.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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