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16:37
ANDRADEJRJOR
DENIS LERRER ROSENFIELD O ESTADO DE SÃO PAULO
O politicamente correto
tornou-se uma praga a corroer valores, embora o faça em nome de supostos
valores mais elevados. Procura-se atingir a liberdade de escolha, em
nome da saúde ou de qualquer outro suposto valor, tomado a esmo, como se
assim a sociedade fosse capaz de se organizar "melhor". O "bem" e o
"melhor" ganham, então, o seu significado dos que se dizem seus
"representantes", como se esses fossem a concretização de um valor
maior.
A liberdade de autodefesa dos cidadãos é anulada em função
de uma regulamentação sustentada por poucos, que nem se dão ao trabalho
de justificar o desrespeito ao resultado do referendo sobre o
desarmamento. Os habitantes do País ficam à mercê de criminosos e ao
sabor de estatísticas incorretas, como se os "crimes" tivessem sido
reduzidos graças a essa nova regulamentação. Por que não acatar um
referendo ou fazer um novo, dando aos cidadãos o direito de decidir por
si mesmos?
A liberdade de escolha, de fumar e de beber, está
sendo progressivamente restringida, sendo a primeira delas uma espécie
de cavalo de batalha que, se bem-sucedida, terá consequências ainda
maiores em outros campos da liberdade individual. Atividades
economicamente lícitas e reconhecidas constitucionalmente começam a ser
tidas por "transgressoras", como se fosse um ato de transgressão seguir
as leis deste país. O moralismo do politicamente correto toma o lugar da
lei. Se for para mudar a lei, façam-se leis com tais objetivos, ou
melhor, os brasileiros deveriam ser consultados sobre o que pensam
mediante consultas populares.
Em vez disso temos uma pletora de
atos administrativos ou outros que interferem na liberdade de cada um. A
tutela do Estado chega a tal ponto que os indivíduos, anestesiados, vêm
a considerá-la como moralmente justificada. Ocorre uma renúncia à
liberdade em função de um bem tido por maior, quando o maior perigo aí
reside: tomar um valor qualquer como se fosse maior que o da liberdade.
O
politicamente correto tem, também, consequências econômicas, atingindo
empresas, agricultores, empregos e renda. Pior ainda, seu moralismo
invade o domínio da economia de mercado, propiciando atos ilícitos, que
se aproveitam, precisamente, de regulamentações abusivas. Ou seja, há
toda uma cultura da transgressão que vem associada à restrição da
liberdade de escolha.
O contrabando, a pirataria e a sonegação de
impostos impactam diretamente os empregos formais, atingindo inteiras
cadeias produtivas e setores econômicos. A ilegalidade cobra o seu
preço, embora, muitas vezes, o cidadão comum nem se dê conta cabalmente
do que está fazendo. Compra um eletrônico falsificado, um cigarro que
não segue padrões mínimos de qualidade e uma bebida que não obedece a
critérios sanitários básicos. A arma que é proibida para o cidadão é
comprada livremente por meliantes e traficantes em qualquer cidade
brasileira. Se os Estados forem fronteiriços a alguns países
latino-americanos, tanto mais fácil se armar, fumar, beber ou comprar
qualquer bugiganga.
Para se ter uma ideia da enormidade do
problema, 80% dos óculos são pirateados, 32% dos cigarros são
contrabandeados (só este produto ocasionou uma evasão fiscal de R$ 4,5
bilhões em 2014), remédios são falsificados, atentando contra a saúde da
população, softwares são livremente reproduzidos, filmes pirateados e
assim por diante. A lista é imensa, no entanto não consta de nenhuma
agenda política nem econômica. Sempre há uma "justificativa" e alguém
disposto a justificar o injustificável.
O crime advindo do
contrabando acarreta prejuízos enormes. A economia é profundamente
afetada. Empregos são perdidos. A arrecadação de impostos cai. Em alguns
casos o efeito chega a ser paradoxal, pois se aumenta a tributação
formal, tendo como efeito o crescimento da economia informal, com a
consequente redução de impostos. O fumo é um bom exemplo disso.
A
ilegalidade cobra seu preço. Aumentam os atos ilícitos dos mais
diferentes tipos. Drogas são comercializadas livremente, armas são
vendidas e o cidadão comum, o que paga efetivamente impostos, fica à
mercê de uma situação que o ultrapassa. Deve contentar-se com os
discursos do politicamente correto, como se assim o País estivesse
evoluindo e se tornando "progressista". As palavras perdem o seu
significado e se tornam objeto de mera retórica ideológica.
"Argumentos"
politicamente corretos parecem não faltar: a "saúde" dos cidadãos, a
sua "condição social", a sua "segurança", a sua "baixa educação" e
outros do mesmo tipo. As pessoas parecem não se dar conta de que a saúde
é uma escolha individual; a autodefesa, um direito; a condição social,
algo que deve ser objeto de investimento, e não de acomodação, da mesma
maneira que a educação é - e deveria ser - objeto primeiro de melhoria
nacional. Em vez disso, temos uma acomodação complacente.
Soluções
existem. Basta que a blindagem do politicamente correto seja
enfraquecida. O governo não é um fim em si mesmo, mas só um instrumento
dos cidadãos, que deveriam ser reinvestidos de sua capacidade autônoma
de livre decisão. Cabe ao Estado oferecer essas condições. Dentre elas,
poderíamos listar uma política de tributação que equilibre a oferta e a
procura, não favorecendo o surgimento do contrabando. Setores econômicos
com alta tributação podem ser asfixiados.
Acrescente-se uma
política eficaz de controle de fronteiras, impedindo verdadeiramente o
contrabando dos mais diferentes produtos. Se Estados limítrofes, como o
Paraguai, têm problemas sociais graves que podem favorecer atividades de
contrabando, um investimento brasileiro na formalização de sua economia
e em políticas sociais poderia ser um excelente instrumento. O mesmo
valeria para outros países. Por seu tamanho e importância, o Brasil está
destinado a assumir tal posição. Sua política externa deveria seguir
essa sua vocação.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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