Blog Do
Orlando Tambosi
Pela primeira
vez os analistas começam a se preocupar com a possibilidade de que o país entre
num círculo de confronto popular, que pode deixá-lo mais parecido com o que
acontece na Venezuela e na Argentina. Basta que o lulopetismo prossiga na sua
tentativa de dividir o país e amordaçar a imprensa. A propósito, leiam o
interessante artigo do jornalista espanhol Juan Arias, do jornal El País,
reproduzida abaixo. Melhor, diz ele, um impeachment do que a "tentação
antidemocrática":
O Brasil,
em vez de se dividir, sempre se uniu no passado para defender as grandes
batalhas democráticas. Foi assim nas manifestações de massa das “Diretas Já”,
para pedir a volta do direito ao voto popular, e quando, juntos, os brasileiros
saíram às ruas, vestidos de preto, para exigir o impeachment do então
presidente Fernando Collor de Mello. O país nunca teve comichão pelo confronto
popular.
O Carnaval
deste ano está sendo outra prova desse gosto dos brasileiros pela
aglomeração na rua, tanto nos momentos de dor quanto nos de alegria e prazer.
Milhões de pessoas de todas as classes sociais, de Norte a Sul do país,
desfilaram pacificamente em milhares de blocos de todas as idades e ideias
políticas para se divertir em paz.
Mas pela
primeira vez os analistas começam a se preocupar com a possibilidade de que o
país entre, por motivos políticos e para reagir à corrupção e à crise econômica
e de desencanto com a política, num círculo de confronto popular que pode
deixá-lo mais parecido com a Argentina ou com a Venezuela que com sua própria
história.
No Brasil
começam a ressoar dois gritos preocupantes: o de impeachment da presidenta
Dilma Rousseff, recém-eleita nas urnas, e o de uma possível guerra civil, não
sangrenta, mas de consequências difíceis de medir, em que os cidadãos poderiam
acabar se enfrentando nas ruas, pela primeira vez não unidos em defesa de uma
causa comum, mas com ruídos de “guerra”.
Já foi
explicado pelos especialistas em direito que o pedido de impeachment não é
nenhum golpe contra a democracia, já que está previsto na Constituição e pode
ser solicitado por qualquer cidadão que acredite que haja motivos para isso.
Difícil
saber o eco popular que poderão ter as manifestações convocadas em caráter
nacional para 15 de março, para pedir a saída do Governo da presidenta Dilma
Rousseff. O que é indiscutível é que, diante da corrupção e da crise econômica,
cresce o descontentamento popular, até nas pessoas menos favorecidas, as da
classe C, que até ontem eram o fiel baluarte do governo do PT e hoje
começam a se distanciar dele, como se depreende da última pesquisa do
Datafolha.
Depor de
seu cargo um presidente, ainda que isso carregue sempre um certo drama, supõe
passar pelos procedimentos jurídicos previstos na Constituição, com severo
controle pelo Congresso: o impeachment precisa ter dois terços dos votos na
Câmara e no Senado.
Tal
pedido, inclusive bradado nas ruas pelos brasileiros descontentes com o
governo, como um dia fez o PT ao pedir, na oposição, a saída do então
presidente Fernando Henrique Cardoso, não deveria ser motivo de preocupação em
termos democráticos.
O que
hoje começa a dar medo é que algumas forças políticas, tentadas pelo demônio da
perpetuação no poder a qualquer preço, em vez de buscar meios de sair da crise,
possam acabar dividindo o país, como já acontece na Argentina e na Venezuela,
com impulsos, como naqueles países, de amordaçar a informação livre.
Um pedido
de impeachment pressupõe um exercício democrático, no qual os eleitores
acreditem que o governante vitorioso e democraticamente eleito nas urnas tenha
se tornado indigno de continuar no poder. Nada mais.
Ao
contrário, um confronto que dividisse o país em dois grupos irreconciliáveis,
já sem distinguir quem fosse governo ou oposição, poderia criar a tentação à
violência, que não se sabe ao que poderia levar.
Esse tipo
de confronto civil, que torna irreconciliáveis as duas partes em conflito e
acaba dividindo salomonicamente um país, dificulta desde seu nascimento
qualquer solução democrática, porque em vez de diálogo e racionalidade, reina a
paixão, cultivada mais com o fígado que com o cérebro.
Nada pior
neste momento, por exemplo, que uma parte do partido do Governo querer empurrar
as ruas usando seus sindicatos e movimento sociais contra as medidas de
austeridades defendidas por seu próprio Governo para tirar o país da crise.
A reação
do Governo frente a um pedido de impeachment da presidenta Rousseff deve ser
apresentar fatos que mostrem que não há motivo para isso. Tudo, é claro, à luz
do Sol, aceitando os resultados das legítimas investigações, sem tentar
domesticá-las nem manipulá-las.
Sempre se
disse que é a verdade que nos torna livres. E são os fatos, revelados por meio
das instituições livres do Estado, nesse caso das forças policiais e dos
tribunais de Justiça, os melhores defensores da legalidade.
Todo o
resto, como os fatos “tenebrosos” insinuados pelo juiz Sergio Moro na operação
Lava Jato, praticados com a expectativa de impunidade nas sombras dos esgotos
do submundo do poder, são o melhor caldo de cultura para que se forme no país
um clima de dissimulada violência e divisão dos cidadãos.
Seria o
pior dos remédios para que o Brasil saísse da crise econômica e política que
vive.
A força
do Brasil, invejada em vários continentes pelos países que sofrem com a
tentação de rasgos nacionalistas ou ideológicos, sempre foi sua unidade
nacional, apesar de suas imensas diferenças geográficas e culturais.
Querer
hoje ignorar os novos ventos da busca por formas mais participativas do poder
para perpetuar a velha política patrimonialista poderia acabar esgarçando um
país que sempre se orgulhou de sua união.
Melhor,
em caso extremo, um impeachment, se necessário e constitucional, que qualquer
outra tentação antidemocrática, mesmo que possa ser disfarçada como defesa dos
direitos dos mais pobres.
A
verdadeira democracia exige que até aos mais necessitados e indefesos seja dada
a liberdade de escolher como e por quem querem ser defendidos, porque a
História ensina o quão perigosa é a força desses excluídos quando descobrem que
estão sendo enganados ou manipulados pelos malabarismos do poder.
FONTE
DIPLOMATIZZANDO
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