Alex Pipkin, PhD
A maturidade, a experiência, o estudo e os erros acumulados ao longo do tempo me levaram a uma percepção que só o tempo autoriza: há algo profundamente errado na forma como tomamos decisões, como indivíduos, como empresas e como países. Não falo de má-fé. Falo de algo mais sutil e mais perigoso.
Tomamos decisões guiados pelo curto prazo. Eu, você, todos nós. O alívio imediato costuma vencer a construção paciente do que realmente importa. Escolhas fáceis seduzem porque prometem conforto, aprovação e paz momentânea. Escolhas difíceis exigem coragem, renúncia e disposição para suportar desconforto. A perversidade está aí: o que parece sensato hoje quase sempre cobra um preço alto amanhã. E, quando o resultado chega, já não há mais culpados, apenas consequências.
No mundo empresarial, vejo isso todos os dias. Empresas em processo de transição — especialmente aquelas que saem de um modelo familiar para uma gestão mais profissional — sofrem de um mal silencioso; a ausência de discordância real. Executivos concordam com a visão do fundador ou do principal líder não porque estejam convencidos, mas porque discordar custa caro. Questionar o status quo exige caráter, não apenas competência. Assim, decisões ruins seguem intactas, projetos medíocres prosperam e oportunidades reais são ignoradas em nome de uma harmonia aparente.
Sustentabilidade exige foco, renúncia e escolhas difíceis. Não por acaso, em estratégia, talvez o mais importante não seja decidir o que fazer, mas decidir o que não fazer, e sustentar essa decisão ao longo do tempo. Exige dizer não a projetos ruins, a expansões apressadas, a desvios tentadores, mesmo quando parecem racionais no curto prazo. Sustentabilidade não é técnica; é caráter aplicado à gestão.
Menos de 10% das empresas no mundo conseguem sustentar crescimento econômico por uma década. Esse número tende a cair à medida que a tecnologia acelera ciclos, amplia concorrência e reduz margens de erro. Crescer é difícil; crescer de forma sustentável é exceção. E isso só acontece quando a empresa opera em dois planos ao mesmo tempo. No presente, que paga as contas, e no futuro, que está sendo construído agora, com decisões que quase ninguém enxerga e, portanto, aplaude.
No plano governamental, o padrão se repete, em escala maior e com consequências mais graves. Governos populistas, tanto à esquerda — principalmente à esquerda — quanto à direita, prosperam oferecendo alívio imediato a sociedades exaustas. Reformas estruturais são adiadas; decisões impopulares, evitadas; verdades incômodas, substituídas por narrativas confortáveis e por falácias “progressistas”. Governa-se para o agora, não para um futuro promissor e sustentável.
O grande imbróglio está nos incentivos; equivocados e perversos. Ah, como eles importam! É mandatório e urgente estruturar incentivos que priorizem o investimento, a geração de empregos, renda e riqueza, e a mentalidade de um futuro sustentável, pois são esses incentivos que moldarão as escolhas e definirão o caminho para uma prosperidade duradoura.
A política passa a refletir o desespero coletivo. Populações que exigem soluções rápidas acabam sendo atendidas por quem promete o impossível. Não é por acaso, quando as pessoas estão desesperadas, apenas os mentirosos conseguem satisfazê-las. A disciplina fiscal, por exemplo — condição sine qua non de qualquer economia saudável — é sempre empurrada para depois. Mas o “depois” nunca chega.
Há uma confusão perigosa entre atender necessidades e bajular desejos. No mercado, clientes sabem o que sentem, não necessariamente o que resolve seus problemas. Cabe às empresas, com seus recursos, competências e tecnologias, enquadrar essas necessidades em soluções reais, muitas vezes invisíveis ao próprio mercado. Governos deveriam fazer o mesmo: sair da armadilha populista e tomar decisões difíceis hoje para que o bem-estar de amanhã seja possível.
Escolhas fáceis sempre parecerão humanas e sensíveis. Escolhas difíceis quase sempre parecerão duras e impopulares.
Porém, o tempo não se impressiona com intenções, nem mesmo com as mais nobres. Governos já não nascem para construir o futuro, mas para aliviar o presente — e o tempo sempre cobra essa escolha.
publicadaemhttps://www.puggina.org/outros-autores-artigo/a-tirania-das-escolhas-faceis__18593





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