Percival Puggina
Por volta de 1950, eu já suspeitava de que o tal Papai Noel fosse uma grande lorota quando, certa noite, meus pais e tios se reuniram na sala de estar e fecharam a porta onde, como sagaz detetive mirim, colei o ouvido para receber a má notícia: Papai Noel não existia e meu desejado carrinho de pedais não estava em cogitação.
Papai Noel é um mito da infância. Representa-o um aposentado gordo e simpático buscando graninha extra para o próprio Natal ou um parente bem disfarçado, com touca vermelha de pompom branco, sumido nas recordações infantis referentes ao 25 de dezembro. E o Menino Jesus vai embora junto, como parte do elenco? Ignorá-lo nesse dia, nesse período do ano, notadamente numa família cristã, é colocar no barquinho de papel do politicamente correto o maior acontecimento histórico da aventura humana. É transformar uma data marcante da Fé e da humanidade numa festa pagã e comemorar, como em tempos remotos, o Yule no solstício de inverno nórdico. Convenhamos!
É sobre esses êxitos que avança o batalhão cristofóbico da guerra cultural, forçando qualquer expressão socialmente percebida de religiosidade cristã a um recuo para a vida privada e impondo sua gradual interdição nos espaços públicos. Neles, os fatos da realidade podem ser escrutinados por opiniões de ateus, materialistas, comunistas, agnósticos, juristas, filósofos, antropólogos, consumidores, empreendedores, sindicalistas, seja em que condição for. Pode-se dar palpites a propósito de temas morais e sociais com qualquer fundamento e, mesmo, sem fundamento algum. Mas não se ouse abrir o bico se algo, naquilo que se diz, puder ser identificado como tendo semelhança ou raiz em algum princípio da moral ou da fé cristã. Já é coisa sabida que isso seria politicamente incorreto.
Então, o Natal virou símbolo, também, de incorreção política. Papai Noel é politicamente correto. O Menino Jesus, não. E, por isso, sumiu Ele do seu próprio Natal. O trenó é politicamente correto; o presépio, não. A árvore de Natal é politicamente correta; a manjedoura, não. A ceia da noite de 24 de dezembro é politicamente correta; a Sagrada Família, não. Felizmente, Deus me concedeu a graça de rejeitar essa barganha sem sentido, que leva a um feriado ou feriadão pagão, cujo motivo não pode ser explicitado. A mesma irrazão leva a uma troca de lembrancinhas sem algo que lhe dê causa e a algo que morre quando longe de sua seiva cristã.
Feliz Natal do Menino Jesus!
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