por Raquel Landim FOLHA DE SÃO PAULO
A presidente Dilma Rousseff e seus auxiliares estão tentando viabilizar
uma nova rodada de concessões de obras de infraestrutura à iniciativa
privada. Já faz algum tempo que o governo se convenceu de que incentivar
os investimentos é a única forma de salvar a economia do desastre.
Devido aos inúmeros erros dos últimos anos, o país enfrenta um perigosa
estagflação. A previsão para o ano é queda de 1% no PIB e inflação
superando os 8%. É urgente, portanto, sair da recessão, mas a margem de
manobra está muito estreita.
Não há espaço para incentivar o consumo, seja por receio de perder o
controle dos preços ou porque os cofres públicos estão vazios, após os
gastos desenfreados com equivocadas políticas de estímulo.
A única saída é destravar as obras de infraestrutura, que melhoram a
eficiência da economia. No médio prazo, ajudam até a derrubar a
inflação. O diagnóstico do governo é irrepreensível, mas o problema está
no "timing".
Com a economia em crise, o Congresso às turras com o Executivo, e as
investigações da Polícia Federal ameaçando atingir outros setores, não
vai ser fácil convencer os investidores estrangeiros a aplicar seu
dinheiro no Brasil - ainda mais em projetos com retorno de longo prazo.
E não é só isso. A Operação Lava Jato atingiu em cheio as grandes
construtoras brasileiras, acusados de suborno e prática de cartel na
Petrobras. Essas empresas estão sem crédito na praça e a maioria não tem
condições de participar dos consórcios que tocariam as obras.
Há alguns anos, o Brasil era a bola da vez e os grandes fundos de
investimento teriam aplicado bilhões e bilhões, sem hesitar, para
construir portos, estradas e ferrovias por aqui. Mas os governos
petistas não queriam nem ouvir falar em privatização.
Conforme a situação foi apertando, cederam a contragosto. Tinham uma
preocupação legítima de não onerar a população com pedágios e tarifas
escorchantes, mas meteram os pés pelas mãos e tornaram o negócio pouco
atrativo para os investidores.
Agora os técnicos dilmistas tendem a ser negociadores mais razoáveis na
montagem do modelo de concessões, porque estão com a corda no pescoço em
busca de dinheiro para cumprir a meta fiscal. Só que correm um sério
risco de ficarem falando sozinhos. E, se isso ocorrer, que alternativa
restará ao Brasil para voltar a crescer?
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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