editorial de O Globo
À medida que avança o desmonte do regime chavista, crescem as deserções e o número de denunciantes junto a organismos americanos de combate às drogas
A mais nova onda de pressão autoritária contra a imprensa profissional
venezuelana foi desfechada porque veículos como o “El Nacional", “Tal
Cual” e o site “La Patilha” reproduziram a notícia de um jornal espanhol
de que o poderoso capo chavista Diosdado Cabello, tenente da reserva,
presidente da Assembleia Nacional, seria um dos líderes, ou mesmo o
chefe supremo, de um cartel de drogas. Foi o suficiente para que, a
pedido de Cabello, a Justiça, aparelhada pelo chavismo, impedisse que 22
diretores de empresas de comunicação deixem o país.
Acusações contra Cabello e outras figuras proeminentes do chavismo, de
atuarem, de alguma forma, no tráfico da Colômbia para os Estados Unidos —
na cobrança de propinas ou mesmo como “empresários” — já vêm de algum
tempo.
Mas agora elas começam a aumentar, tudo indica porque, com o
desmoronamento do país no governo de Nicolás Maduro, e num ciclo de
baixa do preço do petróleo, surgem deserções no chavismo de gente do
núcleo do próprio regime. Busca-se refúgio nos Estados Unidos, onde
alguns se tornam informantes do DEA (órgão de repressão às drogas, com
atuação global), do Departamento de Justiça e promotoria.
Na edição de segunda, o jornal americano “The Wall Street Journal”
trouxe um amplo relato da ação de autoridades americanas — nem todas
ligadas ao Executivo, caso de promotores — na coleta de informações
sobre a atuação de militares de alta patente e autoridades chavistas
junto ao tráfico. Cabello é um dos alvos do trabalho em curso, feito
pelo DEA em Washington e promotores federais em Nova York e Miami. O
denunciante de Diosdado é o ex-chefe de sua segurança pessoal, o capitão
da Marinha Leamsy Salazar, que diz ter testemunhado Cabello
supervisionar o despacho de uma remessa de cocaína para território
americano. Cabello, por óbvio, nega e ainda acusa Leamsy de ter sido
“infiltrado" pelos americanos no chavismo.
Não há dúvida que traficantes colombianos encontraram abrigo na
Venezuela, enquanto os Estados Unidos executavam o Plano Colômbia, de
forte apoio militar no combate às drogas naquele país e também às Farcs,
convertidas numa força de narcoguerrilha. Calculam os americanos que,
só em 2013, 131 toneladas de cocaína, cerca de metade da produção da
Colômbia, passaram pela Venezuela em direção aos Estados Unidos.
Nesta passagem, muito dinheiro estaria sendo faturado por autoridades
venezuelanas. Há uma lista VIP sob investigação: general Hugo Carvajal,
ex-diretor da inteligência militar;
Nestor Reverol, comandante da Guarda Nacional; José David Cabello, irmão
de Diosdado, ministro da Indústria e chefe da Receita, e o general Luís
Motta Dominguez, responsável por tropas na região central do país. E
como não há perspectiva de melhoria na situação venezuelana, a
perspectiva é de o país se converter em um narcoestado, para azar, mais
um, da América Latina.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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