por Sandro Vaia Com Blog do Noblat - O Globo
A falta de transparência ofende o país
Quando a presidente Dilma defenestrou Graça Foster da presidência da
Petrobras e nomeou para o lugar Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco
do Brasil, parecia que a maior empresa brasileira, combalida pela
roubalheira e a má gestão, estava sendo preparada para disputar o
campeonato mundial de transparência.
Uma semana depois da divulgação do balanço trimestral, que alentou o
mercado por causa de um lucro de 5,3 bilhões de dólares, maior do que o
esperado pelo mercado, uma notícia da Folha de São Paulo botou água no
chope: segundo o jornal, o resultado foi inflado em 1,3 bilhões de
dólares por conta de um artifício contábil que registrou como ganho um
evento ocorrido 37 dias depois do fechamento do trimestre.
Convenhamos: não é esse tipo de transparência o mais adequado para
começar a tentar recuperar a credibilidade que a empresa perdeu no
mercado.
Numa entrevista à agência de notícias Bloomberg, a presidente Dilma
procurou injetar a sua dose protocolar de otimismo, dizendo que era
tarefa de seu governo a recuperação da Petrobras e que acreditava que
empresa voltaria rapidamente a receber os investimentos de que precisa e
a distribuir dividendos a seus acionistas.
A fábula do discurso redentor de “recuperação da Petrobras” feito
especialmente para revigorar a crença e a fé do público interno, que
colocou a situação da empresa na coluna “débito" em sua avaliação geral
do governo, teve cores menos róseas num relatório enviado à SEC, a
agência reguladora do mercado financeiro dos EUA.
O triunfalismo do “agora vai” vendido para o público brasileiro foi bem
mais atenuado no conteúdo do relatório para a SEC, revelado pelo jornal
“O Estado de S. Paulo”. Nele, a empresa admite que terá dificuldades
para explorar o pré-sal em função do modelo regulatório que obriga a
empresa a participar com um mínimo de 30% em qualquer área que venha a
ser explorada dentro do sistema de partilha.
A Petrobras reconheceu também no relatório à SEC que " a limitação
financeira pode prejudicar a capacidade de pagamento aos credores, já
que o fluxo de caixa das operações é hoje insuficiente para financiar o
aumento de gastos de capital planejado e as obrigações da dívida”.
A empresa disse temer também que qualquer novo rebaixamento de
classificação de crédito pode ter consequências negativas sobre a
capacidade de obter financiamentos.
O novo presidente da Petrobras, num depoimento ao Senado, fez um tímido
ensaio sobre a possibilidade de rever a questão da obrigação que a
empresa tem de participar da exploração de todos os campos e da
obrigação do conteúdo nacional, mas a presidente Dilma logo disparou
mais um de seus cala-bocas e desautorizou a especulação do subalterno.
Ela quer que tudo fique como está.
É fácil perceber que a promessa de transparência na gestão da Petrobras é
uma daquelas que se localiza mais no discurso do que na realidade.
Inflar dogmas ufanistas interessa mais ao governo do que efetivamente
encarar e deixar clara a real situação da empresa e do que ela será
capaz efetivamente de fazer com os recursos de que dispõe e a gigantesca
dívida que tem de administrar.
Como se não bastasse essa deliberada falta de clareza recorrente nos
negócios da empresa, começam a vazar pela imprensa registros de reuniões
do conselho de administração onde se desenvolveram batalhas verbais em
que a ex-presidente Graça Foster, demitida por Dilma, faz apreciações
muito pouco elogiosas ao presidente da empresa durante o governo Lula,
Sérgio Gabrielli. Num áudio de uma reunião vazado pela imprensa, quando
se discutia a contabilização das perdas por corrupção, Graça Foster se
indignou ao ouvir que sua gestão era comparada à anterior: “Não nos
confunda com Pasadena, não nos ofenda”.
Se Pasadena ofende Graça, a falta de transparência ofende o país.
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