por Bernardo Mello Franco
Na Roma antiga, a Justiça era retratada como uma deusa de olhos
cobertos, que não enxergava para ser imparcial ao decidir. No Brasil de
hoje, a Justiça também se diz cega, mas parece usar a venda para não ver
a crise no país.
Enquanto os trabalhadores comuns sofrem com demissões e cortes de
direitos, o Judiciário quer aumentar o salário de seus servidores em
31,4% neste ano. O plano prevê reajustes até 2017. Em quatro anos,
custará R$ 25,7 bilhões ao Tesouro, calcula o Ministério do
Planejamento.
A bomba ameaça implodir o ajuste fiscal, mas ganhou o apoio militante do
presidente do STF, Ricardo Lewandowski. "Nós precisamos sempre [de
reajuste]. Quem é que não precisa pagar o supermercado, já que houve um
aumento do preço dos produtos?", disse, nesta segunda.
Para azar do contribuinte, o ministro não está sozinho na cruzada
corporativista. Em setembro passado, seu colega Luiz Fux determinou o
pagamento de auxílio-moradia de R$ 4.300 a todos os juízes do país.
A benesse foi aplaudida pelo presidente do Tribunal de Justiça de São
Paulo, José Renato Nalini. "Não dá para ir toda hora a Miami comprar
terno", afirmou. "O auxílio foi um disfarce para aumentar um pouquinho. E
até para fazer com que o juiz fique um pouquinho mais animado, não
tenha tanta depressão, tanta síndrome de pânico, tanto AVC."
Nesta terça, a Assembleia Legislativa do Rio começou a discutir mais um
benefício para os magistrados fluminenses: um "auxílio-educação" de até
R$ 2.860 ao mês. Com o sinal verde de Lewandowski, está aberta uma nova
corrida por privilégios.
Além das mordomias para os juízes, a única coisa que cresce no país é a
coleção de gafes presidenciais. Nesta segunda, Dilma Rousseff chamou o
ministro Edinho Araújo (Portos) de Edinho dos Santos. O prefeito de
Niterói (RJ), Rodrigo Neves, foi rebatizado de Rodrigues.
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