por Mary ZaidanCom Blog do Noblat - O Globo
No momento, se aceita tudo, até aumento de impostos. Só reagem ao desabrigo dos companheiros aboletados no governo. Mexer nos cargos de livre nomeação, nem pensar
Quase R$ 70 bilhões. Ainda que inferior ao desejo do ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, o contingenciamento anunciado sexta-feira no
Orçamento da União - o maior da história - impressiona. As lâminas
chegaram à Educação e à Saúde, em obras do PAC, e até na menina dos
olhos da presidente Dilma Rousseff, o programa Minha Casa, Minha Vida.
Mas, de novo, não se viu corte algum no custeio, no tamanho da máquina
que não para de inchar.
Os cortes são mais do que necessários, mas correm longe de ser solução
para o país, dilapidado por mais de uma década pelos governos petistas
que se divertiram gastando mais do que deviam e podiam.
Antes de tudo, são bombas de efeito antecipado em um ambiente político em que só o cheiro de pólvora já faz tudo explodir.
Ninguém no governo – nem mesmo Levy – pensou em dividir a conta com o
próprio governo e com setores ainda intocados: juízes, parlamentares,
servidores públicos. Não se abriu mão de um simples ministério, de um
único cargo de confiança. Não se mexeu em privilégios. Não se fez um
mero gesto.
Na Previdência, por exemplo, um milhão de aposentados do serviço público
respondem por mais R$ 60 bilhões do déficit, os outros R$ 50 bilhões de
rombo são relativos aos 30 milhões de segurados do INSS. Um vespeiro do
qual ninguém quer passar por perto.
Sequer uma voz sobre renegociação de contratos, mesmo depois de as
investigações na Petrobras revelarem percentagens fixas de corrupção,
padrão que, se acredita, repetia-se em obras de todo o país.
Nem o decreto de Dilma para redução do uso de aviões da FAB por
ministros foi cumprido, como, há mais de mês, revelou a jornalista Maria Lima, em O Globo.
Difícil crer que algo tenha mudado.
Elogiados como ato “de coragem” pela diretora-gerente do FMI, Christine
Lagarde, para arrepio de alguns setores do PT, os cortes são um
ambicioso conjunto de intenções. Diferentemente das medidas provisórias
que estão no Parlamento, não produzem efeito imediato. Mesmo sendo
valores estratosféricos, apenas limitam os já baixíssimos investimentos
do governo e, de quebra, têm caráter recessivo.
Sabe-se que Dilma, Lula e a maior parte do PT odeiam ter de dar o braço a
torcer a políticas que até ontem eles taxavam como neoliberais. A
trinca, em especial Lula, sabe ainda que qualquer possibilidade de êxito
em 2018 depende do sucesso desse rearranjo na economia, seja ele
ortodoxo, de direita, conservador.
No momento, se aceita tudo, até aumento de impostos. Só reagem ao
desabrigo dos companheiros aboletados no governo. Isso não. Mexer nos
cargos de livre nomeação, nem pensar.
Ao que parece, não percebem a exaustão da fábula: as formigas já
trabalham cinco meses por ano para encher as burras do governo. Não
suportam nem mesmo o canto da cigarra.
Lula que se cuide.
extraídaderota2014blogspot
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