por Clóvis Rossi Folha de São Paulo
Há uma lógica elementar na incipiente perspectiva de que as autoridades norte-americanas investiguem a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014.
Afinal, se há uma investigação em curso –e prisões já feitas– sobre a
concessão das Copas de 2018 e de 2022 à Rússia e ao Qatar,
respectivamente, não consigo encontrar uma só razão para não desconfiar
de alguma maracutaia na outorga ao Brasil.
Mas não basta circunscrever as apurações à Fifa. É conveniente apurar se
os governos dos países que sediarão as duas Copas já anunciadas e os
que abrigaram as mais recentes (ou não tão recentes, de resto)
conseguiram a organização por meios lícitos ou não.
É razoável suspeitar que se envolveram no aroma de corrupção que desde esta quarta-feira, 27, é exalado pela entidade-mãe do futebol.
O jornal "The New York Times", ao anunciar as prisões de dirigentes da Fifa em Genebra, fez acurada descrição do que é a entidade.
Assim: "Com mais de US$ 1,5 bilhão (R$ 4,7 bilhões) em reservas, a Fifa é
tanto um conglomerado financeiro global como uma organização esportiva.
Com países ao redor do mundo competindo agressivamente para vencer a
concorrência para hospedar a Copa do Mundo, Blatter [Joseph Blatter, seu
presidente desde 1998] demanda a fidelidade de qualquer um que queira
um pedaço do filão de receitas".
De fato, todos os países que hospedaram Copas fizeram uma formidável
campanha para convencer Blatter e a sua corte a lhes outorgar o direito.
No caso do Brasil, a campanha foi comandada pelo então presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, como parte de sua estratégia para colocar o Brasil
em lugar destacado no mapa do mundo.
Conseguiu. Festejou a escolha do Brasil, em 2007, como se fosse a conquista do título.
Definiu a organização de uma Copa como uma "tarefa imensa, incomensurável".
Como se sabe, muita gente nas ruas não gostou da "tarefa" e protestou
ruidosamente. Imagine o que aconteceria se, de repente, se descobrisse
que a escolha do Brasil não se deveu apenas às suas belezas naturais e à
sua paixão pelo esporte que a Fifa comanda.
Seria um choque imensamente superior aos 7 a 1 que a Alemanha aplicou ao Brasil.
Diga-se que a campanha pela Copa no Brasil não foi apenas do governo
central. Ao contrário, foi uma tarefa de Estado, de que dá prova o
comparecimento em Zurique, no dia do anúncio, de uma penca de
autoridades, entre elas os então governadores Aécio Neves (PSDB-MG) e
Sérgio Cabral (PMDB-RJ).
Afinal, como lembra ainda o "The New York Times", na Fifa, "as decisões
políticas são frequentemente tomadas sem debate ou explicação, e um
pequeno grupo de funcionários graduados –conhecido como Comitê
Executivo– opera com poder desmesurado. A Fifa tem, por anos, funcionado
com pouca supervisão e menos ainda transparência".
Como o governo brasileiro também funciona com pouca transparência (vide o
escândalo envolvendo a Petrobras), é absolutamente natural que se
desconfie quando ele se junta a uma entidade cujo vice-presidente, José Maria Marin, está preso agora.
extraídaderota2014blogspot
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