editorial do Estadão
As duas maiores economias latino-americanas, Brasil e México, poderão
multiplicar seu comércio bilateral, em poucos anos, se os seus governos
cumprirem o plano combinado pelos presidentes Dilma Rousseff e Enrique
Peña Nieto. A ideia inicial é ampliar de 800 para 6 mil o número de
produtos com redução tarifária nas trocas entre os dois países. A
negociação de um novo acordo de cooperação deverá ser discutido a partir
de julho, segundo se anunciou terça-feira, na capital mexicana, no fim
de uma visita de Estado da presidente brasileira. Se der resultado o
esforço prometido, haverá, afinal, uma aproximação, há muito necessária,
entre uma das economias mais abertas e uma das mais fechadas do
continente americano.
As trocas entre os dois países são irrisórias. Em 2014, o Brasil
exportou US$ 3,67 bilhões para o México e importou US$ 5,36 bilhões. As
trocas bilaterais equivaleram a apenas 1,99% da corrente de comércio do
País, isto é, a soma total de exportações e importações brasileiras. Do
lado mexicano, o comércio bilateral é ainda mais insignificante.
Em 2014, o México faturou US$ 397,54 bilhões, 4,6% mais que no ano
anterior. No Brasil, a receita comercial foi 7% menor que a de 2013, por
causa do baixo poder de competição da indústria e da redução de preços
dos produtos básicos, principal fonte de receita cambial do País. No
México, ao contrário, a receita comercial tem sido sustentada
principalmente pelas vendas de manufaturados, de US$ 337,29 bilhões no
ano passado.
A integração comercial entre México e Estados Unidos explica boa parte
dessa diferença, mas, além disso, a economia mexicana é muito mais
aberta que a brasileira e seus vínculos com o exterior continuam a
expandir-se. Além de participar do Acordo de Livre-Comércio da América
do Norte (Nafta), com Estados Unidos e Canadá, o México tem acordos
comerciais com muitos países importantes e é um dos formadores da
Aliança do Pacífico, com Chile, Peru e Colômbia.
Em janeiro, durante a reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos,
perguntou-se ao presidente mexicano se poderia haver um acordo entre a
Aliança do Pacífico e o Mercosul. Só se o Mercosul se tornasse menos
fechado, respondeu Peña Nieto, chamando a atenção para a diferença entre
os graus de abertura dos dois grupos de países. No mesmo dia, horas
mais tarde, confrontada com uma pergunta semelhante, a presidente Dilma
Rousseff exibiu um sorriso esperto e deu uma resposta negativa. Não se
abriria facilmente o acesso a um mercado amplo como o brasileiro,
explicou.
Foi uma resposta compatível com a diplomacia terceiro-mundista
inaugurada em 2003 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A
orientação comercial, a partir daí, foi a prioridade à aproximação
comercial com economias emergentes e em desenvolvimento. Nenhum acordo
de livre-comércio com um mercado desenvolvido foi assinado pelo
Mercosul. A negociação com a União Europeia, iniciada nos anos 90,
continua sem conclusão.
Além disso, os países do Mercosul ficaram fora dos acordos bilaterais e
inter-regionais celebrados em todo o mundo nos últimos anos. Ficaram
fora, portanto, das novas cadeias de produção e de formação de valor.
Algumas indústrias conseguiram avançar na integração internacional, mas
são exceções.
A primeira grande façanha do terceiro-mundismo petista foi a liquidação
das negociações da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), em 2003. O
presidente Lula e seu colega argentino Néstor Kirchner sempre
celebraram esse erro como uma grande façanha. Mas só o Mercosul ficou
fora do jogo. Outros países sul e centro-americanos celebraram acordos
com os Estados Unidos e com outros mercados importantes. Ao torpedear a
Alca, a administração petista renunciou a um maior intercâmbio com os
Estados Unidos e também com o México. Não está claro se a presidente
Dilma Rousseff entendeu a extensão dessa tolice. Mesmo assim, talvez
possa tentar corrigi-la. A aproximação com o México pode ser um avanço
importante nessa direção.
extraídaderota2014blogspot
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