por Nelson Motta O GLOBO
O pior do cigarro não é a nicotina, é a
fumaça quente de papel queimado e as substâncias químicas que lhe são
adicionadas para dar sabor e potência
O cigarro está com os dias contados, com o tempo só existirão os
vaporizadores. Embora liberados nos Estados Unidos e na Europa, no
Brasil, graças ao zelo do nosso Estado-babá que nos protege de nós
mesmos, eles estão proibidos. Além de saber algo que eles não sabem, a
Anvisa deve ser mais equipada, competente e rigorosa que a FDA americana
e as agências de saúde europeias, onde os diretores devem ser
indicações políticas e sensíveis a toda sorte de lobbies e pressões...
Um vaporizador é um pequeno aparelho eletrônico tubular parecido com uma
caneta, movido a bateria, que, por aquecimento, extrai do tabaco, ou de
qualquer erva que seja colocada em seu “forno”, a sua umidade em forma
de vapor de água e a sua substância ativa para ser aspirada. Nada
queima, não há combustão, o que parece ser uma nuvem de fumaça é só
vapor de água, sem cheiro nem sabor, nem qualquer efeito em pessoas
próximas.
Não é preciso ser da Anvisa para saber que os piores malefícios do
cigarro não vêm da nicotina, mas da fumaça quente de papel queimado e
das centenas de substâncias químicas que lhe são adicionadas para dar
sabor e potência. Nos vaporizadores, só água e nicotina são inalados, e
eles estão ajudando muitos fumantes a largar o cigarro, que é uma forma
de adição mais comportamental do que química, em que o cilindro de papel
entre os dedos é um fetiche mais poderoso e mais difícil de abandonar
do que a dependência de nicotina.
Em Nova York, os vapers fizeram
uma campanha para liberação de seu uso em lugares não fumantes. Testes
rigorosos foram feitos e ficou provado que não havia nenhum risco para
“aspiradores passivos”, o vapor de água se dissolvia no ar em segundos e
era inodoro. Só não foi liberado porque o prefeito Bloomberg,
antitabagista xiita, admitiu que não causava danos a terceiros... mas
estimulava o vicio do tabagismo, e vetou.
Os vaporizadores vieram para ficar, cada vez mais sofisticados e mais
baratos, como um sonho para os fumantes e um pesadelo para as companhias
de tabaco e os governos que arrecadam bilhões em impostos com cigarros.
E depois gastam em tratamentos de saúde.
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