por Dora Kramer
Na hora do aperto e na medida até do impossível, o Palácio do Planalto
cede, engole em seco e absorve as derrotas sofridas no Congresso sob a
liderança dos presidentes da Câmara e do Senado. Faz olhar de paisagem
diante das reiteradas demonstrações de força do deputado Eduardo Cunha e
das constantes provocações do senador Renan Calheiros.
Calmaria puramente cenográfica. No relato de dois interlocutores diários
da presidente, se pudesse, Dilma Rousseff faria picadinho dos dois. O
cargo não lhe permite qualquer gesto de retaliação. Não seria prudente
nem conveniente. Nas internas do governo, no entanto, o que se vê é a
deterioração completa dessa relação. Principalmente no que tange o
presidente do Senado, a quem o Planalto ajudou a eleger. A ele já foi
transmitido o recado, por intermédio de representantes autorizados do
governo: sua nova postura de oposicionista é tida como uma atitude
traiçoeira; se no futuro vier a enfrentar dificuldades decorrentes de
seus processos no Supremo Tribunal Federal, que vá pedir apoio aos
partidos de oposição.
Não conte com sustentação do Planalto. Ali, no Palácio, a interpretação é
a de que Renan Calheiros acredita que possa "crescer" junto à opinião
pública nessa fase de impopularidade de Dilma Rousseff. Esquecendo-se,
no entanto, de que sua imagem não é das melhores. Para dizer o mínimo e
de maneira bastante amena.
Nos bastidores a realidade nua e crua é a seguinte: o governo espera que
o Judiciário faça com Renan Calheiros e Eduardo Cunha o que o Executivo
não pode fazer.
O Supremo Tribunal Federal, onde o presidente do Senado tem processos,
digamos que não tenha adorado o empenho de Renan Calheiros para ver
rejeitada a indicação de Luis Edson Fachin, nas mãos de quem caiu o caso
da pensão da filha paga por um lobista de empreiteira. No dizer de um
governista de muitas estrelas, a disposição do Planalto é "fazer a
operação necessária para que Renan se saia mal no Supremo". Qual
operação seria essa? "Nada demais. É só pedir que o ministro Fachin seja
isento".
Quanto a Eduardo Cunha, a esperança do Palácio do Planalto é de que o
deputado venha a ser realmente envolvido nas investigações da Operação
Lava Jato. De acordo com as informações de Palácio, a Procuradoria-Geral
da República "quer o couro" do presidente da Câmara.
Nesse roteiro, caberia ao Executivo assistir de camarote ao Judiciário
promover a derrocada dos dois presidentes do Legislativo e, assim, abrir
passagem para o renascimento do Executivo. É um plano de voo no papel.
Nada garante na pratica que dê certo.
Fator previdência. O governo tem um acordo com a base aliada e com a
oposição para votar o fator previdenciário. Tudo certo, a presidente
disse que não iria vetar, mas não é toda a verdade.
Ela vai vetar sim, mas só que o veto será sem efeito. Pelo seguinte: no
período entre a aprovação da medida provisória no Senado e a apreciação
do veto, o governo apresentará uma fórmula alternativa de cálculo,
tornando inócuos tanto o veto quanto a MP.
Mulheres. A bancada feminina da Câmara não está nada satisfeita com o
presidente Eduardo Cunha. Elas querem prioridade para a votação de uma
proposta pela qual as mulheres tenham direito a 30% das cadeiras da
Casa. Ele reluta. Quer pôr em votação depois do sistema de governo, o
que a elas não satisfaz. Argumentam que, com isso e mais o distritão,
estarão fora do Parlamento.
Radical. A diferença entre o discurso do PT e da oposição de crítica ao ajuste é que o PSDB não pede a cabeça do Joaquim Levy.
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